A primeira Assembleia Geral Ordinária de acionistas da Vale após a tragédia do rompimento de uma barragem da mineradora em Brumadinho, Minas Gerais, prevista para terça-feira (30) será marcada pela denúncia de "graves falhas de gestão", afirmou em nota o grupo de acionistas da Articulação de Atingidos e Atingidas pela Vale. O grupo pretende impedir a aprovação do Relatório de Administração da companhia referente a 2018.
Segundo o documento enviado à imprensa pelos acionistas afetados pela Vale, será pedida na assembleia a paralisação imediata das atividades da empresa e substituição de toda a diretoria. "Os acionistas também demandarão um reconhecimento efetivo da responsabilidade da Vale e um pedido público de desculpas, a ser veiculado nos órgãos de imprensa", informam na nota.
"Menos de quatro anos após Mariana, o rompimento da barragem em Brumadinho levanta um questionamento incisivo entre os acionistas críticos: Há ainda a possibilidade de a mineradora continuar em operação? Sob quais critérios?", questionam os acionistas, referindo-se à tragédia da Samarco, empresa da Vale e da BHP em Mariana, também em Minas Gerais.
Os acionistas argumentam também que há anos alertam para a gravidade do modelo de gestão da Vale, com supostos indícios de manipulação de mercado, já que a empresa omitiria dos acionistas os riscos dos seus empreendimentos. "A Vale acaba gerando uma valorização artificial e enganosa de seus ativos, que sofrem brusca variação a cada evento desastroso que a empresa protagoniza. Esta suspeita foi alvo de pedido de investigação junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), protocolado pelos acionistas críticos logo após o rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho", dizem os acionistas.
Entre os principais motivos para a reprovação do Relatório de Administração da empresa, o grupo cita a "crítica situação de gestão das barragens", em referência às 17 barragens de rejeito da Vale em Minas Gerais que são consideradas instáveis ou não têm a segurança atestada.
"Paralelamente, mais de mil pessoas foram evacuadas de suas casas, como consequência dessa situação de incerteza. No entanto, a empresa não forneceu detalhamento sobre a situação de risco efetivo dessas estruturas, incluindo os coeficientes de segurança aplicáveis, além de falhar na apresentação da análise de risco dos projetos de descomissionamento e estabilização que pretende implementar", criticam.
Eles acusam também a Vale de ter pressionado a empresa de auditoria das barragens para liberar o funcionamento delas em troca de serviços de consultoria. "Uma grave suspeita que coloca em xeque todos os protocolos de segurança e transparência adotados pela mineradora", afirmam, adicionando que os acionistas vão apresentar também "graves falhas na assistência aos atingidos pelo desastre".
"Os acionistas demandarão o efetivo reconhecimento pela empresa de sua responsabilidade pelas mortes e demais danos causados, por meio de pedidos públicos de desculpas e de um trabalho de dignificação de cada uma das vítimas, através de inserções em veículos de imprensa em horário nobre e rede nacional pelo período de um ano", afirmam.
Em recente balanço de três meses da tragédia de Brumadinho, a Vale informou que até o momento 274 famílias de vítimas de Brumadinho receberam como doação, cada uma, R$ 100 mil; outros 98 residentes de imóveis da Zona de Autossalvamento receberam R$ 50 mil; e 85 pessoas que tiveram seus negócios ou produção rural impactados pelo rompimento receberam R$ 15 mil.
"Visando a soluções para as questões emergenciais, a Vale fechou acordo preliminar que permite fazer pagamentos emergenciais para todas as pessoas que residiam em Brumadinho ou que moravam até 1 quilômetro da calha do Rio Paraopeba desde Brumadinho até a cidade de Pompeu, na usina de Retiro Baixo, no dia 25/1/2019", disse então a Vale em nota, ressaltando que está prestando atendimento médico e psicológico para todos os afetados, entre outras ações.
Procurada para repercutir o documento dos acionistas, a Vale não havia retornado até a publicação dessa matéria.
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