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Médico é acusado de negar atendimento a idosa de 85 anos por 'não compensar'

A Polícia Civil abriu inquérito para investigar denúncia de que um médico teria negado atendimento a uma idosa por ter 85 anos e não compensar "investir" na saúde dela. A mulher, Nacyr Ávila Leoneti, moradora de Ipuã, no interior de São Paulo, havia sido levada em estado grave à Santa Casa de São Joaquim da Barra, cidade próxima, quando teve uma parada cardiorrespiratória. De acordo com a denúncia, após se referir à idade dela - "tem 85 anos, não compensa investir" - o médico comentou que "quando a gente quer que a paciente morra, ela não morre".

Os fatos se passaram no dia 22 de agosto e o médico Luiz Octávio Villena, que faz parte do corpo clínico da Santa Casa, é investigado. Ele diz que é vítima de acusação falsa e que vai processar os denunciantes. A idosa foi levada pela família para o pronto-socorro de Ipuã desidratada e com falta de ar. Após receber atendimento, foi decidida a transferência, de ambulância, para a Santa Casa de São Joaquim da Barra.

A idosa foi acompanhada pela equipe do pronto-socorro, inclusive o médico plantonista. Na chegada ao hospital, a paciente sofreu a parada cardiorrespiratória, mas o médico Luiz Octávio não teria adotado o protocolo de reanimação, alegando que ela estava morrendo. Foi quando teria feito os comentários, segundo a acusação.

O delegado Gustavo de Almeida Costa informou que a apuração será de tentativa de homicídio. "Temos a versão do médico plantonista que conduzia a paciente e da enfermeira que ficou com eles na emergência. Também colhemos depoimentos da técnica de enfermagem que estava na ambulância e da neta da mulher. São quatro pessoas que corroboram a versão de que o médico Luiz Octávio teria desejado a morte da paciente. O dever do médico é impedir a morte, se a favorece, é tentativa de homicídio", disse.

Ainda segundo o delegado, ouvido informalmente, o médico negou de forma veemente a denúncia. "O que ele afirma é que houve falha da equipe que apresentou a paciente, tanto na omissão do real quadro de saúde dela, pois estava entubada, quanto na aplicação de um sedativo que não podia ser dado. Na versão do indiciado, ele salvou a vida da idosa." Segundo o delegado, não há câmeras de monitoramento no setor de emergência, onde se deu a discussão entre a equipe de Ipuã e o médico da Santa Casa. "Uma enfermeira do hospital teria presenciado a situação, por isso vamos ouvi-la também."

A versão de Villena é contestada pela coordenadora do pronto-socorro de Ipuã, Franciele Costa. "Ele avaliou que a paciente estava em óbito, disse que a gente tinha levado a paciente para ele em óbito. Foi quando falou que, pela idade dela, não valia a pena investir, pois ela tinha 85 anos." Segundo Franciele, ela e o médico de Ipuã fizeram massagens para reanimação da paciente, que acabou se recuperando. Villena teria se limitado a acompanhar o monitor cardíaco para ver se a paciente morria. A idosa seguia internada, nesta quarta-feira, 4, sob os cuidados de outro médico.

Procurado pelo jornal O Estado de S. Paulo, Villena negou as acusações e pediu que fosse contatado o advogado Alexandre Nader, do departamento jurídico da Santa Casa, que também atuará em sua defesa. Nader disse que seu cliente havia chamado a atenção da equipe de Ipuã por ter omitido, durante a solicitação de vaga na emergência, a informação de que a paciente estava entubada. "Ela chegou de tal forma que foi preciso fazer uma ressuscitação e, de fato, o doutor Luiz Octávio chegou a dizer que ela estava morta, pois não apresentava os sinais vitais."

Conforme o advogado, o médico da Santa Casa questionou a aplicação de sedativo na paciente pouco antes da chegada ao hospital, pois o medicamento poderia matá-la. "Houve uma discussão com o médico de Ipuã e ele iniciou o processo de reanimação, ajudado pela enfermeira. A equipe do hospital conseguiu estabilizar a paciente. Aconteceu uma discussão sobre questões técnicas entre eles, mas em nenhum momento o doutor Villena disse o que a equipe de Ipuã está alegando."

Ainda segundo o advogado, ele vai pedir a abertura de inquérito por denunciação caluniosa contra as pessoas que estão acusando seu cliente. A prefeitura de Ipuã informou que a Secretaria Municipal de Saúde tomou as providências que o caso exige e acompanha a apuração da polícia.

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) informou, em nota, que instaurou sindicância para apurar o caso e os trabalhos seguem sob sigilo determinado por lei. "Será concedido amplo direito de manifestação às partes envolvidas. Caso a sindicância aponte indícios de infração ética, que consiste no descumprimento de algum artigo do Código de Ética Médica, será aberto processo ético-profissional", informou.

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