Brasil

PF desmonta “máfia dos concursos” que vendia aprovações

Vagas custavam até R$ 500 mil

Escrito por Meon

08 OUT 2025 - 14H00

Juan Silva e Dhara Pereira/ g1

A Polícia Federal revelou um esquema milionário de fraudes em concursos públicos que funcionava como uma verdadeira empresa familiar.

A quadrilha, sediada em Patos, no Sertão da Paraíba, cobrava até R$ 500 mil por vaga e usava tecnologia avançada para burlar os sistemas de segurança das bancas, incluindo o uso de dublês, pontos eletrônicos implantados cirurgicamente e comunicação em tempo real durante as provas. Segundo a investigação, o grupo aceitava pagamentos em dinheiro, ouro, veículos e até procedimentos odontológicos como forma de propina, e atuava há mais de uma década em diversos certames nacionais.

De acordo com o relatório da PF, o esquema era liderado por Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar expulso da corporação em 2021. Ele é apontado como o principal articulador das fraudes, responsável por negociar com candidatos, coordenar a logística das provas e distribuir os gabaritos. Entre os concursos atingidos estão os da Polícia Federal, Caixa Econômica Federal, Polícias Civil e Militar, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Banco do Brasil e o Concurso Nacional Unificado (CNU).

Para manter o esquema, Wanderlan contava com a ajuda de familiares: os irmãos Valmir Limeira de Sousa e Antônio Limeira das Neves, a cunhada Geórgia de Oliveira Neves e a sobrinha Larissa de Oliveira Neves, que atuavam em diferentes etapas do esquema. Larissa chegou a ser aprovada no CNU e, segundo os investigadores, era usada como “vitrine” para atrair novos interessados.

Um dos principais indícios da fraude está na análise dos gabaritos do CNU 2024, que revelou respostas idênticas entre quatro candidatos — Wanderlan, Valmir, Larissa e Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior, policial militar e dono de uma clínica odontológica suspeita de lavagem de dinheiro.

O laudo técnico aponta que a probabilidade de coincidência aleatória é equivalente à chance de ganhar a Mega-Sena quase 20 vezes seguidas. O grupo também usava mensagens codificadas e dispositivos eletrônicos escondidos sob a pele para transmitir respostas durante os exames, com ajuda de profissionais de saúde responsáveis pelas instalações.

A Polícia Federal identificou ainda movimentações financeiras incompatíveis com a renda dos envolvidos. Um relatório do COAF revelou que Geórgia Neves depositou mais de R$ 419 mil em espécie, mesmo sem vínculo empregatício desde 1998. As investigações apontam que o grupo recorria à compra e venda fictícia de imóveis, uso de “laranjas” e transferência de veículos para mascarar o pagamento de propinas. Parte do valor cobrado por uma vaga na Caixa Econômica Federal, por exemplo, foi paga por meio da compra de uma motocicleta em nome de um terceiro apenas cinco dias após a prova.

A operação, batizada de Última Fase, foi deflagrada pela Polícia Federal na semana passada e resultou na prisão de três pessoas — duas em Recife (PE) e uma em Patos (PB). Na decisão que autorizou as prisões, o juiz Manuel Maia de Vasconcelos Neto, da Justiça Federal da Paraíba, afirmou que a organização atuava com a participação de pessoas contratadas para fazer as provas no lugar dos candidatos, cada uma especialista em uma matéria específica, com custo médio de R$ 300 mil por aprovação.

Até o momento, não há indícios de envolvimento direto das bancas organizadoras, mas a PF apura a possível participação de servidores públicos, profissionais da saúde e intermediários locais. Após o escândalo, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos reforçou as medidas de segurança no Concurso Nacional Unificado de 2025, com uso de detectores de metais em todos os locais, códigos de barras individuais nas provas e atuação ampliada da Polícia Federal e da Força Nacional.

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