A melhora na perspectiva para a tramitação da reforma da Previdência na Câmara, que na quarta-feira, 10, resultou em queda para os juros futuros, nesta quinta deu lugar à cautela e as taxas percorreram a quinta-feira em alta. O gatilho para a correção foi a ameaça do Centrão, na quarta, de obstruir a sessão para a votação do parecer da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na Câmara na semana que vem. Durante o dia, declarações do presidente da Casa, Rodrigo Maia, acentuaram as preocupações com a reforma e deram mais combustível para o ajuste. Outro vetor para a pressão sobre a curva veio do câmbio, com o dólar em alta generalizada e, aqui, retornando ao patamar de R$ 3,85.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 fechou a 6,480%, de 6,465% na quarta no ajuste, e a do DI para janeiro de 2021 subiu de 7,062% para 7,13%. A taxa do DI para janeiro de 2023 encerrou em 8,24%, de 8,162% na quarta no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2025 avançou de 8,672% na quarta no ajuste para 8,73%.
"O cenário lá fora não está muito bom, com alta dos Treasuries e moedas perdendo valor perante o dólar. Aqui, a alta se intensificou e puxou a curva de juros em função da questão interna", disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
O estrategista de renda fixa da GS Research, Renan Sujii, lembra que esta quinta seria um dia, em tese, favorável à sequência do movimento de queda, em função da assinatura pelo presidente Jair Bolsonaro do projeto de lei complementar que trata da autonomia do Banco Central. Mas tal fato acabou ficando em segundo plano. Na quarta à noite, líderes partidários ameaçaram atrasar a votação em retaliação à indicação de Bolsonaro de Abraham Weintraub para o Ministério da Educação sem consulta aos partidos. A estratégia do Centrão passa por votar o texto do Orçamento impositivo antes de se apreciar a reforma.
Na visão dos analistas, quanto mais demora no cumprimento do processo nas várias instâncias - CCJ, comissões especiais e plenário - maior a chance de desidratação do texto, que contempla economia de R$ 1 trilhão em dez anos. Sujii lembra ainda que a postergação eleva as chances de eventos inesperados interromperem o processo. "Em 2017, iam bem as discussões para a Previdência até que veio o 'Joesley Day' e enterrou tudo", disse Sujii.
As ponderações de Rodrigo Maia, em evento da XP Investimentos em Nova York, não representam nada exatamente novo para o mercado, mas, com o clima já azedo em função da ameaça do Centrão, reforçaram a recomposição de prêmios na curva. "Para a reforma andar, falta o governo organizar o diálogo com o Parlamento", disse. Ele ressaltou que a proposta tem economia fiscal de R$ 1 trilhão em 10 anos, "mas o governo não abriu para nós onde está esta poupança". Ele evitou falar em prazos para aprovação, mas disse que aprovar a proposta na Câmara no fim de maio ou no início de junho, com mais 30 dias ou menos 30 dias, não faz diferença.
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