Brasil

Universidades brasileiras desenvolvem testes rápidos para detectar metanol

Pesquisas da UFPR, Unesp e UnB

Escrito por Meon

04 OUT 2025 - 12H33

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A adulteração por metanol em bebidas alcoólicas é silenciosa e praticamente impossível de ser percebida a olho nu. O composto químico não altera o cheiro nem o sabor das bebidas e só pode ser identificado por meio de análises laboratoriais. Diante da crise de contaminação que atinge diversas regiões do país, universidades públicas brasileiras têm ampliado os esforços para desenvolver métodos rápidos e acessíveis de detecção da substância.

O Ministério da Saúde confirmou, nesta sexta-feira (3), 113 registros de intoxicação por metanol em todo o Brasil. Desses, 11 casos foram confirmados em laboratório e 102 seguem em investigação. O alerta mobilizou instituições de pesquisa em diferentes estados, que abriram suas portas para auxiliar a população e fortalecer o enfrentamento à crise sanitária.

Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o Laboratório Multiusuário de Ressonância Magnética Nuclear iniciou um mutirão de exames gratuitos de bebidas suspeitas. Qualquer pessoa pode agendar uma análise para verificar se o produto contém metanol. O equipamento utilizado é semelhante ao de exames médicos e realiza a leitura das amostras em apenas cinco minutos.

“Colocamos o líquido em um tubo, e o aparelho devolve um gráfico com várias linhas. Uma dessas linhas indica a presença de metanol”, explicou o professor Kahlil Salome, vice-coordenador do laboratório, em entrevista à Agência Brasil. Segundo ele, basta uma pequena quantidade da bebida — cerca de 0,5 mililitro — para realizar o teste. O pesquisador destaca que a detecção é eficaz mesmo em líquidos coloridos ou com adição de frutas e corantes.

O professor também ressalta a importância das universidades públicas nesse tipo de atuação. “A pesquisa científica tem o papel de devolver respostas à sociedade, especialmente em momentos de crise como este. A universidade pública precisa estar próxima da população”, afirmou. Ele lembra que outras instituições federais possuem laboratórios semelhantes e podem ser acionadas para realizar o mesmo tipo de exame.

Na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara, um grupo de pesquisadores do Instituto de Química desenvolveu em 2022 um método patenteado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) para identificar adulterações em bebidas destiladas. A técnica consiste na adição de um tipo especial de sal à amostra: se houver metanol, o líquido se transforma em formol. Na sequência, a reação com um ácido provoca mudança na coloração da solução, permitindo a identificação da contaminação em cerca de 15 minutos.

Outra iniciativa vem da Universidade de Brasília (UnB), onde o químico Arilson Onésio Ferreira desenvolveu, ainda em 2013, um kit reagente portátil capaz de identificar metanol em pequenas amostras de bebidas. O projeto nasceu dentro da universidade e deu origem à startup Macofren, que hoje fornece testes para empresas privadas e órgãos governamentais.

Segundo o pesquisador, a ideia inicial era combater fraudes em combustíveis, mas o método foi adaptado para bebidas alcoólicas diante do aumento dos casos de contaminação. “O que está acontecendo agora no Brasil já ocorreu em outros países, como na Europa. O documentário Metanol: o líquido da morte mostra como essa prática criminosa pode ser fatal. Apenas 30 mililitros da substância são suficientes para levar uma pessoa à morte”, alertou Ferreira.

Ele explica que, embora o teste possa apresentar falsos positivos por conta de corantes ou açúcares presentes nas bebidas, falsos negativos nunca ocorrem, garantindo segurança na triagem. O custo do kit completo é de cerca de R$ 50, e cada teste sai por R$ 25. “Desde o início da crise, temos recebido uma enorme procura. São cerca de 200 empresas na fila, entre produtores, distribuidores e organizadores de eventos como casamentos e festas”, afirmou.

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