SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) Parece de propósito: a nova série de Darren Star não poderia ser mais superficial. O criador de sucessos como "Melrose Place", "Beverly Hills, 90210", e, especialmente, "Sex and the City", sabe como fazer bom uso de sexo, diversão e bons figurinos em seus programas de TV. Ele não é lá muito de inserir grandes problemas filosóficos em seus personagens, mas quase todos têm, pelo menos, uma personalidade interessante.
Pois não é o caso aqui. É de se perguntar o que ele tem contra os franceses para serem apresentados como são em "Emily em Paris", nova série da Netflix, com 10 episódios de meia hora cada, disponível desde o último dia 2.
O programa é um diário de viagem disfarçado de mix de drama com comédia estrelando a adorável atriz inglesa Lily Collins ("Espelho, Espelho Meu" de 2012; "Adorável Professora", de 2013). E mais: repete insistentemente que o jeito americano de trabalhar pode solucionar facilmente os problemas que os franceses enfrentam.
A tal da Emily trabalha em uma empresa de marketing em Chicago, até que sua chefe, que estava de mudança para Paris, descobre estar grávida e desiste de viajar para a Europa. Indica sua subordinada como substituta e lá vai Emily passar um ano na capital francesa.
Ela nem considera o fato de não falar uma palavra de francês um obstáculo, e essa situação vira uma piada repetida por toda a produção. A menina está convencida que consegue sobreviver apelando para o seu charme. E ela realmente sobrevive, contando com a certeza de que todos ao seu redor falam inglês.
Então, a ação se desloca para Paris, ou melhor, para uma versão turística da cidade. As imagens impressionam, todos os cartões-postais da metrópole aparecem no seu ângulo mais esplêndido.
Alternando com as cenas deslumbrantes, são exibidos também todos os clichês dos franceses que os roteiristas conheciam. O Moulin Rouge, mulheres ricas vestidas com roupas de grife consentindo que seus minúsculos cachorros façam cocô na rua, carne mal passada, cigarro, vinho no café da manhã, homens vestindo ternos caros falando abertamente sobre sexo e um aparente desprezo pela cultura americana.
Mas é a garota o maior problema. Há uma imprecisão na construção da personagem. Não fica claro se ela é uma pessoa insólita de quem o público deve rir, ou uma garota comum com quem as telespectadoras possivelmente se identificam.
Lily Collins interpreta uma mulher aérea e confiável mas que não deixa nada nem ninguém atrapalhar o seu caminho. Que é, quase sempre, se escorar na sua experiência com as redes sociais, para as quais os franceses não dão muita atenção segundo a série.
Não importa que ela não tenha nenhuma experiência com sua nova tarefa, promover marcas de luxo em uma empresa que acabou de se associar à companhia em que ela trabalha. A habilidade de conseguir likes nas contas do Instagram, tanto pessoal quanto profissional, instiga os clientes. E resolve a maioria das confusões em que ela se mete. Basta um post alterando o ângulo de um problema, e ele vira uma solução que os franceses nunca pensariam.
Mesmo sem conseguir se comunicar direito, ela se envolve romanticamente com três homens, um deles um vizinho, Gabriel (Lucas Bravo), por quem tem mais que uma quedinha. Mas ele tem uma namorada, de quem Emily fica amiga. E você acaba não se envolvendo com o romance complicado em que a menina se mete, de tão sem significância que sua vida pessoal é.
O elenco de apoio é competente. Sylvie (Philippine Leroy-Beaulieu), sua chefe que a despreza de cara, é muito bem construída. Assim como Mindy (Ashley Park), uma amiga que ela faz e que tem uma história pessoal divertida. Um colega de trabalho mais velho e malucão (Bruno Gouery) também se destaca, assim como o estilista Pierre Cadault (William Abadie). E o figurino excepcional é de Patricia Field, a mesma de "Sex and the City".
Mas nem eles salvam o programa de sua tolice essencial, e da imensa desimportância de sua trama.
EMILY IN PARIS
Onde: Netflix
Classificação: 14 anos
Elenco: Lily Collins, Philippine Leroy-Beaulieu, Ashley Park
Criação: Darren Star
Avaliação: regular
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