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Coligação ampla no governo italiano abre espaço para radicais, diz cientista político

BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) - A ampla coalizão formada em torno do novo primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, pode favorecer o crescimento do partido de direita radical Irmãos da Itália, afirma o cientista político Daniele Albertazzi, professor da Escola de Governo da Universidade de Birmingham, no Reino Unido.

Draghi se tornou nesta sexta (12) chefe do governo italiano, após reunir sob sua chefia partidos de todo o espectro político. Neste sábado (13) ele fez o juramento e assumiu oficialmente o cargo.

Com a adesão de 2 das 3 principais siglas de direita italianas --a Liga, liderada pelo populista Matteo Salvini, e o Força Itália, do ex-premiê Silvio Berlusconi--, o Irmãos da Itália se tornou a única força de oposição no país. Isso dará enorme espaço em debates na TV e nas rádios italianas à líder oposicionista Giorgia Meloni e outras figuras de seu partido, diz Albertazzi, que é especialista em populismo e nacionalismo.

Por essa razão Salvini se opunha inicialmente a entrar na coalizão: "Há um risco real de o Irmãos de Itália superar a Liga e exigir a cabeça de chapa da direita nas próximas eleições".

O líder populista, no entanto, precisou ceder aos caciques do norte italiano, principalmente da Lombardia e do Veneto, de onde vem sua sustentação política.

De acordo com Albertazzi, não há surpresa na adesão de um partido visto como eurocético a um premiê que defende a União"‚Europeia, já que esse assunto é pouco relevante para a Liga. A ampla coalizão formada por Draghi reflete de fato o interesse dos políticos de influenciar a divisão dos fundos bilionários de recuperação pós-pandemia --até 209 bilhões de euros (R$ 1,3 trilhões) devem começar a fluir a partir do próximo semestre.

"O gabinete de Draghi é totalmente dominado pelo norte do país e, a não ser que o governo imploda antes em uma guerra civil, a prioridade de investimentos nessa região pode permitir a Salvini manter-se à frente da direita", diz Albertazzi.

O professor de Birmingham diz que Draghi se destacou de seus antecessores "tecnocratas" ao nomear um gabinete majoritariamente indicado pelos membros da coalizão, numa estratégia para "forçar os partidos a assumirem responsabilidades". O que surpreendeu o cientista político, porém, foi a concessão aos "suspeitos de sempre". "Ele nomeou figuras controversas que estão no poder há anos, em vez de forçar os partidos a indicarem novos nomes, mais mulheres", opina.

Embora considere inevitáveis fortes disputas internas no novo governo --"por mais dinheiro que venha, não dará para a prioridade de todos"--, o professor lembra que, a partir de julho, há uma blindagem de seis meses por causa das eleições presidenciais, o que manteria a coligação unida "à força".

No melhor cenário, Draghi pode comandar uma retomada vigorosa da economia e se tornar presidente da Itália no futuro.

No pior, "e, infelizmente, o mais provável, dado o histórico da política italiana", o milagre que todos esperam de "Super Mario" (como foi apelidado o novo premiê) não acontece: "Todos se jogam em cima do prato para garantir uma linguiça para alimentar seu eleitorado, e o dinheiro do fundo acaba mal usado, em interesses setoriais em vez de em um plano nacional".

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