Por Elaine Rodrigues Em RMVale

Comunidades ribeirinhas sofrem impacto da seca no rio Paraíba do Sul

O rio Paraíba do Sul enfrenta uma das maiores secas de sua história. Provocada pela falta de chuvas, a queda do nível do rio preocupa o governo e a população, mas causa um impacto ainda maior nas comunidades ribeirinhas que vivem às suas margens por toda a RMVale.

Em São José dos Campos, Carlos Nascimento, 80 anos, nasceu e cresceu à beira do rio. Há oito décadas, o pescador vive com sua família no bairro Vargem Grande, na região norte, e diz que nunca viu o rio como está hoje. "O Paraíba está mais baixo do que nunca. Não tem peixe, não tem força. Esses dias meus filhos colocaram 18 redes e só pegaram seis peixes. Dificilmente vai ser o mesmo", afirma.

Na década de 60, pescadores chegavam a pescar e a vender, cada um, mais de 35 quilos de peixe por dia. O rio sustentou Nascimento, seus pais, sogros e filhos. "A gente nadava no rio. Aos 10 anos eu já pescava e vendia meus peixes no Mercadão Municipal, isso em 1935. O Paraíba era ainda mais bonito, vivo, cheio de peixes. Era imenso para todos nós que já morávamos aqui, ao seu lado", conta.

Com o passar dos anos, segundo o pescador, com a chegada das indústrias ao Vale do Paraíba, as águas do rio foram ficando poluídas e os peixes contaminados. "Eu vendia o peixe em um dia, no outro o cliente vinha perguntar onde pesquei porque a carne estava tão ruim que nem o cachorro comia. Antes do final de 73, eu e outros pescadores tivemos que parar de pescar e arrumarmos emprego nas fábricas".

Cultura
"Aprendi a tecer redes de pesca ao seis anos de idade. Aqui na vila tinham festas, procissão de barcos. Eu contei e, antes dos anos 70,  São José tinha 191 pescadores no Paraíba. Hoje deve ter restado cinco e não existe mais nada, nenhuma festa, só essas redes que fazemos", relata Nascimento.

A cultura ribeirinha, transmitida há mais de cem anos em São José dos Campos de pai para filho, ali na casa de Nascimento pode morrer ou virar apenas lembrança em um quadro na parede da sala.

"Meus filhos e netos não pescam mais, trabalham na cidade. As cavas de areia, a poluição e agora esta seca, tudo isso foi acumulando e o rio está aí, lutando para viver. Eu já parei de pescar há dez anos, mas olhar e ver o rio pra mais de quatro metros abaixo do que foi, sem várzea, dá uma tristeza", conclui o pescador.

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Por Elaine Rodrigues, em RMVale

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