Por Moisés Rosa Em RMVale

Grupo se reúne para reeducação alimentar de filhos em São José

Obesidade infantil não é mais um problema estético. É preciso readequar a alimentação

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Crianças durante oficinas de reeducação alimentar

Pedro Ivo Prates/Meon

Hambúrguer, batata frita e muito refrigerante. Quem não gosta? É difícil resistir a esses alimentos e produtos que são classificados como altamente calóricos quando vamos a uma lanchonete. Mas, é preciso alerta neste quesito, principalmente com as crianças e os jovens. A obesidade não é mais um problema estético. A saúde deles pode estar comprometida com o consumo excessivo.

Os hábitos alimentares das crianças e jovens mudaram drasticamente nas últimas décadas. As frutas e legumes das refeições, que eram servidos durante o almoço e o jantar, foram substituídos por salgados, doces e outros alimentos.

A preocupação dos especialistas é que esta faixa etária entre 5 e 17 anos está deixando de lado a alimentação saudável nas refeições. Isso tem ocasionado os ‘quilinhos’ a mais, gerando sobrepeso ou até mesmo a obesidade infantil em um estágio mais avançado.

Um estudo do Ministério da Saúde, com estudantes de 12 a 17 anos, mostra que as frutas sequer aparecem na lista dos 20 itens mais consumidos e que 56,6% fazem refeição em frente à TV. A pesquisa aponta que entre os 20 alimentos mais consumidos pelos adolescentes brasileiros, os refrigerantes estão entre os seis primeiros, à frente das hortaliças. As frutas sequer aparecem na lista.

A pesquisa revela ainda que 17,1% dos adolescentes de 12 a 17 anos estão com sobrepeso. Já 8,4% dos jovens avaliados estão obesos, com predominância de meninos.

Grupos
Na região do Vale do Paraíba, em São José dos Campos, um grupo de pais e filhos se reúne toda semana para aprender e readequar a alimentação no dia a dia. O maior desafio para ambos é conseguir agregar uma alimentação nutritiva e saborosa e que mantenham as refeições corretamente.

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Elisandra Vilas Boas, biomédica

Pedro Ivo Prates/Meon

A biomédica Elisandra Vilas Boas, de São José dos Campos, tem dois filhos (de 6 e 9 anos) e os leva para acompanhamento com a nutricionista. Ela observou que ambos estavam acima do peso e que vinham engordando, o que a deixou preocupada com a saúde dos filhos. Na família, já existe histórico de obesidade.

“Desde que eles nasceram eu já tinha essa preocupação com o peso, por conta dos registros de obesidade na família. A Marília (9 anos) e o Olavo (6 anos) cresceram com essa tendência e precisaram passar por acompanhamento com psicólogo e endocrinologista”.

Ela conta que no início do acompanhamento, que teve início há cerca de quatro anos, houve resistência. “No início é tudo diferente e é preciso adaptar-se. Houve uma resistência, mas conseguimos inserir uma alimentação saudável que, hoje em dia, é bem aceita pelos dois”.

Com o histórico de obesidade, Marília e Olavo também apresentaram alguns problemas com a saúde. “Foram diagnosticados com diabetes tipo 2 e isso que mais me deixa preocupada. Agora, eles fazem natação e outras atividades esportivas, recomendadas pelo médico, e restrições na alimentação”, diz.

Marília Vilas Boas pesa 49 kg e o ideal para a sua idade seria 45 kg. No caso do irmão Olavo, o ideal seria 28 kg para a idade dele, mas ele está com 38 kg. A pequena relata que se acostumou com a nova rotina que foi implementada na alimentação diária. “Nem sou muito fã de doces. Desde pequena recebi as orientações e evito os doces e raramente sinto vontade de comer. Como mais os alimentos integrais e amo suco de laranja”.

Indagada sobre chocolate, ela disse que nem faz falta. “Não sinto vontade e me acostumei com isso”. Para Marília, essa nova rotina trará um resultado positivo para a sua qualidade de vida. “Substituímos diversos alimentos e será muito bom porque vai ajudar na minha saúde. Minha mãe faz algumas coisinhas diferentes, brinca com a refeição e nós adoramos”, completa.

“Não tenho problemas atualmente com a alimentação deles. Eles estão aceitando tudo”, acrescenta a mãe Elisandra.

 A preocupação com a alimentação do filho Pietro (5 anos) também é seguida pela auxiliar administrativa Rafaela Aparecida, de 25 anos, moradora de Jacareí. As mudanças e o peso do filho preocuparam a auxiliar administrativa que procurou ajuda de um especialista. “Há um ano ele veio ganhando peso e procurei um pediatra para acompanharmos essas mudanças. No começo fiquei com muito medo, mas foi uma surpresa para mim a aceitação dele”.

Com o diagnóstico de sobrepeso do filho, Rafaela conta que não havia registros na família e todos seguiram com a readequação alimentar para ajudar Pietro. Ela diz que os dois primeiros meses foram difíceis. “Tinha que ficar pegando no pé e alerta para evitar que ele comesse muitos doces e outras besteiras. Em causa houve uma mudança total e todos aderiram com uma nova alimentação. Já na escola, substituímos alguns alimentos e inserimos frutas, vitaminas e sucos”.

Hoje, a balança aponta que Pietro está bem acima do recomendado para a sua idade. O peso está em 42 kg e o ideal seria estar em 25 kg. “Docinhos nem pensar. Antes ele queria sempre comer doce e com essa nova rotina eu vejo uma oportunidade para oferecermos qualidade de vida”, destaca.

Acompanhamento
Para a nutricionista Alessandra Lopes Soares, do NAIS/Viver Bem hoje (Núcleo de Atenção Integral à Saúde), a alimentação correta é o primeiro passo para uma boa qualidade de vida e evitar problemas relacionados à obesidade.

A especialista explica que há uma transição na alimentação de alguns anos para cá, com mudanças nos hábitos. “O que temos visto é uma transição nutricional. Antigamente nós tínhamos uma variedade alimentar muito maior, com frutas e legumes e agora está se usando muitos produtos industrializados, que possuem açúcar e gordura. Isso pode ocasionar problemas com o uso excessivo”.

Os primeiros sinais para a criança e o jovem que está acima do peso são dificuldade para executar as atividades físicas, falta de ar, problemas hormonais, colesterol alto, entre outras doenças.

“Muitas vezes não está relacionada apenas com o peso. Ela [obesidade] pode apresentar características de não comer frutas e alimentos saudáveis, é preciso ter atenção. Estimulamos a alimentação com frutas, legumes, integral, a fibra que dá saciedade. Nesta fase, demanda muitos nutrientes para o crescimento da criança”, diz a nutricionista.

Criatividade
Para a inserção de alimentos no cardápio, a especialista sugere que os responsáveis sejam criativos e usem técnicas para apresentarem pratos atrativos. “Trazemos a degustação para o paladar das crianças. Algumas têm bloqueios e tentamos associar com outros tipos de alimentos, o que acaba facilitando, como por exemplo, em um suco e deixando o prato mais colorido. Nesses casos, o sabor nem é observado”, explica Alessandra Lopes Soares.

A nutricionista lista os alimentos e produtos que são vilões para a boa refeição. “O refrigerante, a bolacha recheada não são nada saudáveis, pois possuem muita gordura. Os salgadinhos, os lanches de fast-food, são alimentos que na correria os pais acabam comprando por falta de tempo e querem agradar as crianças e os jovens”.

“A criança acima do peso fica com disposição afetada para atividade física. Ela não brinca tanto e quer desistir. É possível comer doce, mas a base precisa estar equilibrada”, conclui.

Nas escolas
Em São José dos Campos, a rede municipal conta com 60 mil alunos da Educação Infantil ao Ensino Fundamental, incluindo a Educação de Jovens e Adultos. Um projeto chamado “Self-Service” oferece aos alunos alimentos que ficam expostos em um balcão térmico e que servem a merenda. Elisama Lima Peotta, responsável técnica por alimentação escolar da rede municipal, também destaca a importância da alimentação adequada. 

“A alimentação é planejada de acordo com a faixa etária dos alunos e seu estado de saúde, inclusive dos que necessitam de atenção específica. O cardápio é elaborado por nutricionistas, com base nas premissas da legislação do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), visando garantir a segurança alimentar, com oferta de refeições que cubram as necessidades nutricionais dos alunos durante o período letivo”.

Em Jacareí, o programa ‘Saúde Nota 10’ examinou um total de 2.086 alunos do 1º ano do ensino Fundamental, neste ano. Deste total, 601 crianças (28,82%) apresentaram excesso de peso (sobrepeso ou obesidade) e serão atendidas nas Unidades de Saúde. “Os educadores físicos que atuam nas Unidades de Saúde também são fundamentais para orientar quanto às possibilidades e melhores opções no município para a prática de atividade física, considerando o interesse da criança por determinada modalidade por meio de parceria com Secretaria de Esportes, informa a prefeitura, por meio de nota.

Em Taubaté, a rede municipal tem mais de 42 mil alunos matriculados. De acordo com a Secretaria de Educação, uma avaliação dos alunos apontou que 605 alunos estão obesos, sendo 03 na Educação Infantil e 302 no Ensino Fundamental, em uma amostragem de 4.601 alunos. O Setor de Alimentação Escolar promove atividades de educação nutricional, encontros, palestras e eventos do Programa Família na Escola.

No Litoral Norte, um estudo elaborado pela Casa da Criança de Taubaté entre o 6º e o 9º anos do Ensino Fundamental, de escolas públicas dos municípios do Litoral Norte, revela que 27,3% sofrem com obesidade e sobrepeso. Em Ilhabela esse número é de 21,4%; em São Sebastião, 24%; e em Ubatuba de 24,4%.

No município de Caraguatatuba o cardápio diário é acompanhado por nutricionistas. São oferecidas cinco refeições por dia nos Centros de Educação Infantil e na Escola em Tempo Integral, e no Fundamental 1 e 2, quatro refeições dia. O programa ‘Acertando os Ponteiros – Alimentação Certa, na Hora Certa’ também oferece reeducação alimentar aos alunos e adequação dos horários para as refeições. 

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