Por João Pedro Teles Em RMVale

Piadas, selfies e bomba atômica: como foi a passagem de Bolsonaro por S. José

Pré-candidato à presidência do país participou de evento da cidade

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Eleitores encararam até meia hora de fila por selfie com deputado

João Pedro Teles/Meon

“Não pode nem mais contar piada de mulher em nome do politicamente correto. Tá muito chato viver no Brasil. Quem nunca conta uma piada de mulher, ou gaúcho?”, questiona o deputado Jair Messias Bolsonaro (PSC) a um público de aproximadamente 100 pessoas, na maioria jovens, durante palestra realizada no Palácio Sunset, em São José nesta quinta-feira (11).

Do lado de fora, uma chuva torrencial não dá sinais de trégua. Já o interior de uma das maiores casas de show da cidade, ganha, no palco, bandeiras do Brasil e de grupos de extrema direita da região como adornos de fundo para o discurso do pré-candidato à presidência. De acordo com a última pesquisa do Datafolha, de 2 de dezembro, o deputado federal conta com 17% das intenções de voto, e está em segundo lugar na corrida presidencial.

Bolsonaro vem a São José determinado a declarar guerra com a imprensa, após uma série de matérias do jornal Folha de São Paulo questionar o aumento de seu patrimônio, a contratação de funcionária fantasma e o recebimento do auxílio-moradia mesmo com residência declarada em Brasília (um dia depois, ele declararia à mesma Folha que usava a bonificação para ‘comer gente’, no sentido menos familiar da expressão).

Meu patrimônio está na minha declaração do imposto de renda.Eu vivo disso, p*. Não vivo de propina

Jair Bolsonaro Deputado Federal

“Imprensa canalha a Folha de São Paulo e ainda tem quem acredite neles. Todo o meu patrimônio está no imposto de renda. Nossa lei não diz nada sobre eu não poder usar (a remuneração extra). Eu vivo disso, p*. Não vivo de propina”, vocifera, tirando aplausos de uma plateia cada vez mais numerosa.

A autenticidade do deputado é o que o casal Maiara Raiane, 25, e Joaquim Jaire, 26, mais admiram no político que se transformou em uma obsessão para os dois. Ambos seguem diversas páginas do Facebook sobre o pré-candidato que “mais respeita o cristão”.

“Eu me identifico com todas as ideias dele. Mas, principalmente, ele fala o que o povo sempre quis dizer: que ladrão tem que se ferrar mesmo”, comenta Maiara. “Amanhã vou até trabalhar com a camisa dele”, completa Joaquim, exibindo uma camiseta com a imagem do político e a frase ‘Bolsonaro para presidente’.

Bomba Atômica

Contar com um poderoso e armado exército é uma das promessas de Bolsonaro para o país. “As pessoas só respeitam quem tem arma”, afirma mais de uma vez durante a fala. E o armamento é um dos principais assuntos pelo qual orbita todo o evento. As armas estão na camiseta de um de seus assessores (o desenho frontal de uma pistola apontada), nas poses das selfies que o deputado distribui ao fim do bate-papo e nas perguntas da plateia, quando o microfone é aberto.

É nesta fase que, em uma das perguntas, um homem questiona Jair Bolsonaro sobre sua posição a respeito do Brasil desenvolver uma bomba atômica. “Olha”, responde, “eu já pensei que o país deveria ter uma bomba nuclear. Aí eu fico imaginando o perigo que seria, com os governantes que temos, a gente contar com esse poder de fogo. Imagine o Lula com a maletinha (de ativação da bomba)?”

Ao melhor estilo Eurico Miranda, soberano presidente do Vasco, o deputado diz e repete ao longo das quase duas horas de conversa que “está na hora de resgatar o respeito”. E é na disciplina e obediência hierárquica que o deputado busca a solução para o problema.

Ao responder o questionamento de uma professora – uma das duas negras na plateia – a respeito da falta de segurança em sala de aula, Bolsonaro cita a os colégios militares como exemplos de formação.  “Hoje em dia, quem trabalha tem medo do aluno. Visitei um colégio militar em Manaus e vi o quanto o desempenho dos alunos melhorou depois da implementação do sistema militar. Os alunos de hoje não sabem o básico”.

Celebridade

A histeria típica do contato com uma celebridade conduz o comportamento do público. Apesar de casais aqui e ali, a maioria é formada de homens jovens. O coro de ‘mito, mito’ é evocado a cada frase contundente do deputado. No palco, duas ou três pessoas fazem 'lives’ no Facebook com o discurso, uma delas conta com mais de três mil espectadores.

E basta a sessão de perguntas terminar para que uma fila, que cruza toda a extensão do salão, se forme com público ávido por uma selfie. A sessão fotografia dura aproximadamente meia hora.

“Só olha isso”, comenta o vigilante Luis Gustavo Lopes, após garantir sua foto com o ídolo. “É o futuro do Brasil! O único candidato que cuida da família. Ele é nada esquerdista, não fica com dó de bandido e defende os valores. A mídia, principalmente a Globo, querem acabar com isso. Por mim quem tem que acabar é a Globo. Já ganhei o ano por estar aqui”.

O deputado federal, que ainda faz parte do PSC, negocia sua candidatura à presidência pelo PSL, partido com o qual Bolsonaro já assinou um termo de compromisso.

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