Saúde

A filosofia e a arte de envelhecer

Escrito por Meon

12 SET 2025 - 00H34

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Por Luiz Eduardo dos Santos - Gerontólogo, Mestre em Gerontologia

Quando falamos sobre envelhecimento, sempre é normal pensarmos em ciência, saúde, números e estatísticas vitais, porém a reflexão sobre a passagem do tempo começou muito antes de existirem universidades, hospitais, postos de saúde e pesquisas acadêmicas. Uma das pessoas que mais profundamente se dedicaram a esse tema foi o filósofo romano Lúcio Aneu Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.), que em suas cartas e tratados já nos motivava a olhar para a velhice não como um fardo, mas como uma etapa da vida que poderia ser vivida com dignidade, serenidade e aceitação.

Sêneca não falava sobre exames médicos ou medicamentos, até porque, em sua época, esses recursos eram muito limitados ou não existiam. O que ele oferecia era algo igualmente precioso: uma filosofia de viver a vida, a velhice não deveria ser motivo de medo, mas de aceitação. Envelhecer, era a continuação natural de um processo, sou seja, viver é acumular experiências, sabedoria e, ao mesmo tempo, aprender a lidar com as diversas perdas e ganhos que o tempo traz.

O filósofo comparava a vida a uma peça de teatro, pouco importava se era longa ou curta, mas sim se ela era bem interpretada. Essa imagem continua muito atual. Afinal, a qualidade dos anos vividos importa mais do que a quantidade. Essa reflexão se alinha a conceitos que hoje chamamos de “envelhecimento ativo” ou “envelhecimento saudável”, que são modernos e de certa forma, resgatam essa mesma ideia: viver bem é mais importante do que apenas viver muito, ou seja, adicionar vida aos anos vividos e não apenas viver mais.

Trazer Sêneca para a conversa sobre envelhecimento humano nos lembra de algo importante, mesmo antes de termos estudos sobre expectativa de vida, havia pessoas pensando em como atravessar a passagem da vida com sabedoria. Essa visão nos inspira a cultivar serenidade, a valorizar o presente e a enxergar a velhice como parte do ciclo natural da vida, não como um fim melancólico e triste, mas como uma fase que também representa beleza, sentido e prazer.

Se hoje a geriatria e a gerontologia podem nos orientar nos aspectos biopsicossociais do envelhecimento, é interessante perceber que a filosofia, desde a antiguidade, já nos oferecia caminhos de cuidado para a existência e o sentido da vida. Talvez nesse encontro entre ciência e sabedoria antiga que possamos encontrar uma forma mais humana e completa de entender e lidar com o envelhecer.

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