Por Felipe Kyoshy Em RMVale

Na região, 6.455 crianças nascidas entre 2010/2015 não têm nome do pai

Levantamento da Arpen corresponde a registros feitos entre 2010 e 2015

Pra muita gente, o Dia dos Pais nem sempre é sinônimo de uma data a ser celebrada. Isso porque há milhares de pessoas que nem sequer tem o nome do pai nos documentos. E, embora para muitos isso possa parecer uma realidade distante, isso ainda acontece com mais frequência do que se imagina.

Segundo dados da Arpen-SP (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo) 6.455 crianças das cidades da RMVale, que foram registradas de 2010 a 2015, não têm o nome do pai no documento.

De 2010 a 2015, 6.455 pessoas foram registradas sem paternidade na RMVale, de acordo com a Arpen

O levantamento aponta que durante este período, em média, 1.075 crianças não tiveram o nome do pai no registro oficial, por ano. A maior incidência foi em 2015: quando 1.176 registros tinham o nome do pai em branco. A menor, foi em 2012: 947.

Nesse período, a cidade com maior número de pessoas sem paternidade nos documentos é São José dos Campos (2.292 pessoas), seguida por Taubaté (720), Jacareí (668) e Caraguatatuba (499).

“Esse número baixou bastante nos últimos anos, pois agora ficou mais simples esse processo. Agora não é mais obrigatória a presença do pai e da mãe no cartório. Existem casos em que, por exemplo, os pais estão presos e, por isso, não constam no registro”, comenta Luis Carlos Vendramini, presidente da Arpen-SP.

Algumas cidades diminuíram bastante o número de casos nos últimos anos. Em Igaratá, foram 10 registros sem o nome do pai, em 2010. Em 2015, foi apenas um. Em Queluz, eram 18, há seis anos, já em 2014, apenas quatro pessoas foram registradas sem o nome do pai na cidade.

“Esperamos que isso diminua bastante nos próximos anos”, diz Vendramini.

Segundo a psicóloga cognitiva-comportamental de Taubaté, Ana Paula Viana Lopes, toda criança tem direito de saber quem são os pais. “O nome do pai é uma marca registrada, faz parte da personalidade da criança, se por ventura ela não sabe quem é, ou tem um pai ausente, pode ter distúrbios de comportamento, dificuldade de aprendizagem e conflitos psicológicos”, diz.


Ana Paula explica que em muitos casos, a ausência dos pais afeta a conduta de vida e a formação do caráter e personalidade do indivíduo. “Há crianças que conseguem mascarar a falta da presença do pai e encontram em outra pessoa a figura paterna, que pode ser o avô, tio, irmão mais velho para se espelhar, ver os traços e jeito de ser”, diz.

Casos

Este número, porém é ainda maior se consideradas pessoas com até 30 anos. Em todo o estado de São Paulo, são mais de 750 mil que não contam o registro de paternidade nos documentos, de acordo com dados do Ministério Público.

Uma auxiliar de cozinha de São José dos Campos, que prefere não ter a sua identidade revelada, também não teve a paternidade no RG. Passou por muito tempo com dúvida de como seria seu pai.

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Em consequência disso, relata que sofreu muito quando criança, quando saiu de casa aos 12 anos e teve até que morar em orfanato. E o encontro com o pai foi quando tinha 30 anos, há dois anos.

"É uma história muito longa. Minha mãe não quis me registrar, por que não se dava bem com o meu pai. E sempre perguntei dele, quem era, eu queria conhecer mesmo. E consegui contato por amigos em comum, foi aí que descobri. Muito por acaso mesmo. Gostei bastante de encontrá-lo", comenta.

Porém, apesar de ter localizado, não deverá passar a data junto com o pai.

“Ele tem a família dele, tem outros filhos também. Não vamos estar juntos. Mas tento manter contato com ele”, afirma.

Campanha

O Ministério Público e o Poupatempo iniciaram um projeto para ajudar a esclarecer casos de investigação de paternidade. A iniciativa "Encontre seu pai aqui" começou em São José dos Campos neste mês e até o fim do ano deverá estar em todas as unidades do estado.

Os interessados precisam ir até o Poupatempo com documentos pessoais e preencher um formulário. Menores precisam estar acompanhados por responsáveis. Depois, as informações são lançadas em um banco de dados do MP, que inicia dá andamento no processo.

“São vários canais que podemos consultar, como a polícia. E na própria ficha é possível fazer alguma observação. A informação de algum emprego antigo pode dar uma indicação durante a investigação”, comenta o promotor Maximiliano Roberto Ernesto Fuhrer, que está à frente do projeto.

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