Crônicas e cia

Colunista Felipe Cury homenageia Ary Barroso

Segundo Carmem Miranda, "o maior compositor de todos os tempos”

Colunista Felipe Cury (Reprodução)

Escrito por Felipe Cury

12 ABR 2024 - 13H11 (Atualizada em 12 ABR 2024 - 14H56)

Reprodução

O PENSAMENTO: Ô Brasil do meu amor, terra de Nosso Senhor, Brasil, Brasil” – Ary Barroso em verso de Aquarela.

O FATO: Que pena! A grande maioria dos meus Amigos-Leitores perderam a época de Ary Barroso, que não era só, mineiro de Ubá, nem só flamenguista do Rio. Ele era Universal. Sua “AQUARELA era o samba enredo do Brasil” para o Mundo. Ele era: compositor, letrista (portanto poeta), pianista, chefe de orquestra, locutor esportivo, apresentador de programas de calouros, teatrólogo, advogado, político, radialista e principalmente boêmio. E bom em tudo isso.

Como compositor, fez escola e deixou como modelos as partituras mais consagradas da escala musical brasileira: “Aquarela do Brasil” é a maior de todas, internacionalizada difundiu o samba como patrimônio do Brasil. Em 1939, foi gravada por Francisco Alves – o Rei da Voz e orquestrada por Radamés Gnattali, que ousava no modo de orquestrar sambas.

“Aquarela” representou a síntese de quase 200 canções, depois de quase duas décadas de composições memoráveis. “Aquarela” levou-o aos Estados Unidos onde, incluída em filmes teve mais de 2 milhões de execuções, conquistando o mundo.

Eu me lembro com saudade imorredoura do filme “MELODIA IMORTAL”, com os maiores astros da época: Tyrone Power e Kim Novak. Tyrone Power fez o papel principal interpretando Eddie Duchin, pianista consagrado que, no auge do filme executou “Aquarela do Brasil”. Eu chorei. E se ver e ouvir, vou chorar de novo. Tornou-se amigo de Walt Disney e juntos fizeram “Você já foi à Bahia?”. Assim conquistaram o gosto do povo americano e lançaram “Os quindins de Iaiá” e “Na baixa do sapateiro”.

Pela República fez a trilha sonora do filme BRAZIL com Aurora Miranda (irmã de Carmem) e o caubói do momento Roy Roger. No fim de sua temporada americana recebeu proposta invejável para assumir a direção musical dos estúdios de Walt Disney. Recusou! Uma alegação disparatada é que lá, dos “states” não havia o Flamengo. Pena ser flamenguista como Flávio Alvim (Papô), Euder, Beto Rocha (de Soledade) e Zé Antônio (de São Lourenço) e tantos outros “malas”.

Ary foi apresentador de programas de calouros. E com sucesso. O programa de calouros em Desfile, marcou os primórdios do rádio brasileiro, revelando grandes músicos. Mas “gongar” sem piedade os candidatos menos talentosos foi a grande marca do programa. Muitos artistas, posteriormente famosos fizeram o primeiro degrau da fama no Programa Calouros em Desfile: Lúcio Alves e Ângela Maria foram calouros magníficos. Entre as cantoras a primazia era de Carmem Miranda, idolatrada por Ary (como era autoridade no conhecimento de futebol, gostava de equipará-la a Domingos da Guia, chamado de “Divino Mestre”).

Carmen gravou todo o seu repertório de 30 músicas. Outra foi Dircinha Batista. Já, na década de 1970, Elis Regina abriria um novo ciclo de sucessos. De Luiz Gonzaga a Elza Soares é imensa a lista de futuros ídolos da música popular com “Certidão de Excelência” obtida em Calouros em Desfile. Ary era exigente. Chegava ao extremo da irritação se um candidato não soubesse dizer o nome do compositor da música.

Os carnavais de “antigamente” eram “puxados” por Jamelão intérprete da estima de Ary Barroso, inclusive na execução de “Folhas Mortas”. Certa vez, apresentou-se um candidato metido a malandro, cheio de lescolesco e mais falante que um papagaio. Ary lhe perguntou: “O senhor vai cantar o quê? “Um sambinha - Qual sambinha?!?!?!“- quarela du brasiu. “- Nossos comerciais, por favor.

Em sua versatilidade, resolveu ser LOCUTOR ESPORTIVO. Fez fama, numa função que exigia imparcialidade. Só que foi um narrador partidário, flamenguista cego. Inovando, substituiu o grito de gol – êxtase do futebol – pelo som estridente de uma gaitinha de boca. Continuou a crescer nos índices de audiência. O bom mineiro, conquistado pela “Cidade Maravilhosa, tornou-se fã de São Paulo, essa pauliceia encantadora das fábricas e dos arranha-céus. Abafou! Teve aqui mais probabilidade do que César Ladeira, no Rio, e foi trazido pelo radialista Renato Murce. Abafou a banca: ali era de músico, redator de crônicas, criador de esquetes cômicos e, com a verve notória, comentarista de fatos do dia.

Não tenho tempo nem espaço para citar todos os sucessos de Ary Barroso, mas muita inspiração ele foi buscar nos bares e botecos da geografia boêmia, acompanhado de gente “fina”: Dorival Caymmi, Sílvio Caldas, o super locutor da Metro, Luiz Jatobá, Edu da Gaita, o cômico José de Vasconcelos, o jornalista Sérgio Cabral, os poetas Paulo Mendes Campos e Vinícius de Moraes, Fernando Lobo, compositores, pintores como Di Cavalcanti e Santa Rosa Café Nice era uma parada obrigatória.

A noite era esplendorosa e apoteótica nas casas noturnas de Carlos Machado (Night and Day) e o luxo de Elizeth Cardoso, Grande Otelo e Aurora Miranda. O nosso Ary morreu de cirrose hepática, no domingo de Carnaval, quando a Império Serrano se preparava para abrir o desfile principal com o enredo “AQUARELA DO BRASIL”. O BRASIL chorou.

COLUNISTA

Felipe Antônio Cury, mineiro de Três Corações, reside há mais de 60 anos em São José dos Campos.

Formado em Ciências Jurídicas e Administrativas, pela Fundação Joseense de Ensino, foi Professor de Língua Portuguesa e Comunicação, na Escola Técnica “Olavo Bilac”.

Foi presidente da ACI - Associação Comercial e Industrial de São José dos Campos, por 8 anos, além de ocupar outros importantes cargos em diversas instituições do município.


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