Por Meon Em Opinião

Coluna da Nikoluk: Aprendendo com os erros

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Max Ehrmann, escultura de bronze de Bill Wolf, instalada perto de Crossroads, em Indiana

Reprodução

Há um ditado muito antigo, sem origem definida que diz: “errar é humano”. A ideia expressa por essa frase já era pensada, de diferentes maneiras, por filósofos da Grécia antiga e, em latim, é falada assim: Errare humanum est”. Será? Errar é realmente humano?

Para entender se errar é mesmo humano, vale lembrar de outro ditado (este de origem não tão desconhecida) que diz: “Jogue a primeira pedra quem nunca errou... ou nunca pecou.”

A origem dessa frase encontra-se na Bíblia, quando Jesus Cristo, estando no templo após retornar do Monte das Oliveiras, foi procurado por várias pessoas que traziam uma mulher. Ela estava sendo acusada de ter cometido adultério e, portanto, as pessoas perguntavam se ela deveria ser apedrejada, porque isso estava na lei. Jesus então disse: “Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!” (Jó, 8, 1-11, Bíblia Sagrada). E a mulher não foi apedrejada... nem uma pedrinha foi jogada!

Se os filósofos da antiguidade já filosofavam sobre esse tema, e se até a Bíblia traz uma passagem tão humanamente chocante, com certeza, há fundamento, há verdade nesse dito. Claro! Nós, seres humanos, somos (como diria Raul Seixas) uma “metamorfose ambulante” porque desde o nascimento, aprendemos e mudamos continuamente. E essa mudança ocorre, continuamente, tanto com a pessoa (indivíduo), quanto com a sociedade (coletivo).

Somos “metamorfose” e mudamos sempre, porque também aprendemos o tempo todo, com tudo o que acontece. E esse aprendizado ocorre também através dos erros. Se errar é humano, e os humanos mudam sempre, e aprendem o tempo todo, então erram muito também.

Mas... o que torna um erro diferente do outro?

Há muita diferença entre saber que está errado, desejar o erro (o que se chama dolo); ou errar com boa intenção, ou por equívoco, ou por inexperiência, tentando fazer algo diferente (o que se chama culpa).

Ter dolo é ter má fé, fraudar, violar a lei deliberadamente por ação ou omissão, ter pleno conhecimento e intenção do que se faz, do ilícito que está ocorrendo ou do dano que é causado. Quem faz mal a outro querendo, sabendo, o faz dolosamente.

Já ter culpa é causar um mal, um dano ou um desastre a outros, mas sem intenção de fazer isso. Pessoas que agem com negligência, imprudência ou imperícia e causam danos ou mal a outros, mas sem ter essa intenção, erram culposamente.

Ambos são erros, de forma genérica. Porém, há uma grande diferença: a intenção de errar, de fazer o mal. E é exatamente essa diferença que vai definir o grau de punição, ou a responsabilidade de quem errou. Se vai ficar preso, o quanto vai ficar preso...

A punição será definida em razão do tamanho do perigo, lesão ou prejuízo causado e também, em razão da capacidade da pessoa de mudar, de aprender com o próprio erro.

Essa arrogância em não assumir o próprio erro é o pior e mais grave erro, é doloso, é maldoso, é fraudulento, é uma tremenda demonstração de má fé, que impede um processo de aprendizado, de reeducação, de redenção

 

Porque o sistema prisional, a punição, tem como objetivo maior a reeducação do infrator da lei, sua ressocialização e o resgate de sua capacidade de viver em sociedade.

Há maravilhas sendo feitas (como obras de arte, curas de doenças, atos de solidariedade e amor, verdadeiros “milagres” realizados com participação do ser humano) mas também, há horrores causados pela ação – ou omissão – humana (guerras, violências, abusos, destruição, violação do meio ambiente, exploração de pessoas e animais das formas mais desumanas, etc.). 

Portanto, a inteligência e a habilidade do ser humano podem ser usadas para o bem - e para o mal. É só ler o jornal, ou acompanhar as notícias diárias pelo rádio, televisão ou internet... a lista de maldades e de horrores é imensa!

Atualmente, o maior horror ocorre, provavelmente, na gestão pública. Mais especificamente, na política, onde ocorreram verdadeiros crimes, cometidos por pessoas que são eleitas para governar, para tomar as decisões que vão afetar a vida de milhões de pessoas. E sem dúvida, o pior desses crimes é a corrupção, o mau uso do dinheiro público!

Esse é um crime gravíssimo, doloso, premeditado e altamente lesivo à sociedade, porque utiliza o recurso público destinado à saúde, à educação, à segurança pública (que atende milhões de brasileiros) para... interesses próprios, para o próprio enriquecimento ilícito, para se manter no poder.

A má gestão, a corrupção, traz prejuízos sem tamanho porque:

- mata milhares de pessoas nos hospitais e postos de saúde, por falta de profissionais, de equipamentos ou de condições mínimas de atendimento;

- submete milhões de brasileiros à ignorância, destruindo talentos, depauperando as escolas, desmotivando professores e ideologizando a educação;

- deixa milhões de brasileiros à mercê de criminosos, enfraquece as forças de segurança, não investe em políticas públicas de prevenção primária do crime e da violência, mata centenas de policiais e pais de família…

- destrói a fé e o patriotismo dos brasileiros por falta de uma visão de futuro positiva e de políticas públicas que tragam dignidade e boa gestão na política habitacional, no saneamento básico, na geração de empregos, no desenvolvimento econômico, no lazer, no esporte, na cultura…

O erro criminoso do gestor público, eleito ou não, é gravíssimo! Comete o delito de forma consciente, sabe dos irreparáveis prejuízos que sua ação traz para milhões de brasileiros. Mata e aleija gerações inteiras, seja pela falta de condições mínimas de vida, seja pela ignorância e pelo medo. Mas... mais grave ainda, é quando NÃO RECONHECEM o próprio erro!!! ISSO, é imperdoável! É desumano! É vaidade e arrogância extremados!

Há políticos condenados pela Justiça, que cometeram crimes lesa pátria, delitos gravíssimos decorrentes de má gestão e uso do dinheiro público para interesse próprio, e insistem em NÃO assumir o próprio erro.

Insistem que são inocentes, que estão certos, que são “vítimas de um complô maligno”... ainda que provas robustas evidenciem o que fizeram por anos e anos (inclusive, após serem devidamente julgados e condenados pela Justiça). E outras inquestionáveis evidências estão aí: o Brasil possui índices de insegurança pública altíssimos, um número inaceitável de homicídios, crescem vários indicadores de violência (contra a mulher, contra jovens, contra idosos, contra homossexuais, etc.), alto índice de desemprego, falta de infraestrutura  de base (transportes, rodovias, habitação, usinas, etc.), pessoas morrendo por falta de atendimento, empresas deixando o País... um desafio muito difícil para o novo governo, decorrente de anos e anos de... desgoverno!!!

Certamente, essa arrogância em não assumir o próprio erro é o pior e mais grave erro, é doloso, é maldoso, é fraudulento, é uma tremenda demonstração de má fé, que impede um processo de aprendizado, de reeducação, de redenção…

Certamente, assumir e reconhecer o próprio erro, promovendo verdadeira e séria depuração, é a única forma de alcançar o perdão, a redenção... ainda que os resultados desses erros irreparáveis e, no mínimo, levarão décadas para serem saneados.

Quem assume o próprio erro, gera uma mudança real, construtiva, aprende, reeduca e desperta nobres sentimentos, como a tolerância, a clemencia, a paciência, o perdão... também pode despertar novas qualidades e atitudes positivas, como a humildade, a coragem, a fé, a melhoria e a capacidade de aprender continuamente, de ter consciência, se importar verdadeiramente com os outros.

Aprender com os erros é uma grande qualidade! E o ser humano, que aprende, que muda e que erra, precisa desenvolver a humidade e a capacidade de aprender e se reeducar com os próprios erros, em benefício de todos! Talvez, esse seja o nosso maior desafio da atualidade!

Como no poema Desiderata (1948), do filósofo Max Ehrman, resta entender finalmente que “...você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores. Você merece estar aqui...” e que somos todos irmãos, filhos da mesma origem e exatamente com o mesmo destino... do pó para o pó... com humildade e sabedoria decorrente do aprendizado...

E vamos juntos crescendo, evoluindo e... aprendendo com os nossos erros!

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