As canções folk sempre desempenharam um papel importante para os EUA, e, não obstante, as músicas de protesto exerceram grande influência dentro da cultura americana desde a Guerra da Secessão. No início do século XX, com o avanço dos movimentos sindicalistas, a música de protesto nos EUA passou a ganhar fôlego, expandindo sua força, logo em seguida, pelo período da Depressão nos anos 30 – grande mote para canções preocupadas com teses sociais.
Nos anos 50, Woody Guthrie traria habilidade em vincular discurso panfletário com melodias folk religiosas, explorando questões políticas e sociais da América. Extremamente engajado, Woody tocava para sindicatos, comícios de grevistas e muitos o viam como um artista-profeta, grande ídolo e poeta de sua geração. Outros grupos, como Almanac Singers e Weavers (de Peter Seeger), também cultivaram as sementes idealistas de Guthrie e se tornaram muito famosos nas universidades americanas.
A forte invasão dessas canções acabou influenciando uma nova geração de compositores, entre eles Bob Dylan, que, no início dos anos 60, mudou-se para Greenwich Village, em Nova York, uma região que acolhia cantores com raízes no blues (como Dave Van Ronk), tradicionalistas como Joan Baez, românticos como Tom Paxton, e muitos outros.
Era um período de muita agitação política e diversos conflitos eram travados – como a Guerra do Vietnã e, mais tarde, a Guerra Fria, com os americanos lutando contra a invasão comunista. No Vietnã, os EUA não apenas fracassariam, como seriam responsáveis pela morte de dezenas de milhares de jovens, além de muitos mutilados, viciados em drogas e traumatizados pela brutalidade da guerra – o que ajudou a despertar reações de protesto por toda a América.
Bob Dylan, discípulo mais talentoso de Woody Guthrie, sintetizava o lado engajado e inteligente da música folk, influenciado por Rimbaud, pela literatura beatnik e pelas turbulências sociais e políticas. Em 1963, com seu disco de estreia, Dylan já expunha sua linguagem intuitiva e profética – unindo simbolismo, metáforas, citações – para poder atingir a complexa estrutura social americana.
Dylan passou a convocar políticos, artistas, jornalistas e intelectuais para se unirem em torno dos direitos civis na América. Para a maior parte dos apreciadores de música folk, o rock não passava de uma música feita para adolescentes ingênuos. Ignorando este sectarismo e sabendo das limitações mercadológicas da música folk – e da chegada definitiva do rock britânico –, Dylan acabou se direcionando para o rock, “eletrizando” sem modéstia suas canções folk e ganhando terreno com o folk-rock.
A invasão do folk-rock
No início dos anos 60, o comércio de violões crescia vertiginosamente em função das canções folk de protesto, que se espalhavam pelos EUA. Muitos dos aspirantes eram seduzidos por este gênero, por sua facilidade de tocar e cantar. Qualquer um poderia compor uma canção folk, bastavam boas letras, melodias e acordes simples. Outros seriam atraídos por seu contexto sociopolítico.
Enquanto a invasão do rock inglês não se consolidava – com Beatles e Rolling Stones – a alma folk estava em voga. Embora Dylan fosse famoso como o grande desbravador do folk-rock em Nova York, Los Angeles revelava nomes igualmente inovadores. Jim MacGuinn, Gene Clark e David Crosby formavam o Jet Set – que mais tarde se tornaria o Byrds, banda que faria a ponte musical entre Bob Dylan e Beatles. Outra banda, a Poco, também trazia esse mesmo formato, mas seriam mesmo Dylan e os Byrds os primeiros a introduzir o espírito rock’n’roll para dentro do folk.
Em 1966, surgiria a banda Buffalo Springfield, com Stephen Stills, Rich Furay e Neil Young. Stills soltaria a frase: “Young quer ser Bob Dylan e eu quero ser os Beatles”. O folk-rock que Byrds e Bufallo Sprindfield traziam, com suas inovações estéticas (letras, roupas, comportamento) dentro da contracultura americana, acabariam exercendo grande impacto em toda música popular ocidental até o final do século XX.
Com o fim do Bufallo Springfield, alguns anos depois, Stills e Crosby formariam, juntamente com Graham Nash, a legendária Crosby, Stills and Nash (CSN), que também sacudiria a música popular americana com um primoroso álbum de estreia. Nessa mesma época, Neil Young já escrevia suas primeiras canções solo – e pouco depois entraria para o CSN, formando o Crosby, Stills, Nash and Young.
No início dos anos 1970, cinco personagens do folk de Los Angeles se trancariam num porão para formar os Eagles, trazendo uma instrumentação mais country (usando banjo e violão acústico) e abordando temas como os desejos e as conquistas individuais – assuntos característicos da época. Era um genuíno exemplo do folk-country-rock. O primeiro álbum da banda estamparia na capa o fascínio da contracultura americana pela religião indígena – mais precisamente pelas doutrinas místicas dos nativos.
Mas não só de Los Angeles surgiam artistas de folk-rock. O grupo Mamas and the Papas se consolidou em Nova York, assim como o The Band – esta talvez a banda mais atraente e inventiva do folk-rock de Nova York. Em suma, as canções folk de protesto e o folk-rock estabeleceram-se na América como gêneros bastante honestos e acessíveis. Bastasse um violão e uma ideia na cabeça.
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