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Uma história de amor

Escrito por Meon

06 JAN 2018 - 00H00 (Atualizada em 13 JUL 2023 - 13H21)

saojosedoscamposCAPÍTULO V - O COTIDIANO
Toda vida em conjunto, quando se inicia, traz consigo duas vidas, cada qual com seus traumas, alegrias, perspectivas e sonhos. Nossa vida não foi diferente e, como trabalho desde quando tinha 11 anos, continuei trabalhando no ritmo intenso que era e ainda é a forma como sei viver. O Jürgen também é um homem de trabalho, crescido em família pós-guerra, que sempre deu muito suor para ter uma vida digna. Ele me contou que ainda adolescente, e na Alemanha já é possível dirigir aos 16 anos, queria uma motocicleta. Seu pai, então, lhe propôs que obtivesse, através de seu próprio trabalho, o suficiente para pagar metade e ele completaria com o valor restante. Assim se realizou e ele aprendeu o valor do trabalho. Incansável, gostava disto e, quanto a mim, também havia pedido em minhas orações que meu futuro esposo fosse trabalhador. Por isso, sei que nosso casamento é de Deus. Nossa família é de Deus e nada poderá mudar isso!

Como diz uma amiga, quem casa quer casa. Então, começamos a trabalhar duro para construir a casa sob o terreno comprado antes do casamento. Toda a nossa vida em comum foi pautada por trabalho, investimento na família e nas nossas empresas sendo que, infelizmente, a empresa dele precisou encerrar as atividades, depois de 12 meses de sua ausência. Deixou um lastro de amigos, colegas de trabalho, empresas que admiram sua determinação e confiabilidade. O trabalho, entretanto, consome as energias, envolve-nos em situações que conduzem ao estresse e esse peso quando um acidente faz tudo parar, compulsória e inexoravelmente. O Jürgen trabalhava em média 15 horas por dia, viajando por diversas cidades, às vezes com o carro sem condições adequadas e buscando atender os clientes no tempo e ao tempo deles. Enquanto empregado, assim agia sob o argumento de que estava recebendo ordens. Após, quando a empresa já tinha o seu nome, trabalhava ainda mais, sem respeitar os limites do corpo e a necessidade de descansar, se alimentar e cuidar da própria saúde.

Aqui no Brasil, por duas vezes, teve perda total nos veículos que dirigia. Uma vez, pela manhã quando dirigia no sentido Rio-São Paulo, e, próximo ao primeiro pedágio da Rodovia Ayrton Senna, foi surpreendido por um caminhão, dirigido na direção contrária mas na mesma pista, por um senhor bem idoso, que bateu de frente com o veículo por si dirigido. O velhinho foi liberado e todos, amigos e parentes, ficamos sabendo simultaneamente. Uma porque ele falava ao celular com a Alemanha quando gritou e o aparelho celular voou, o que assustou o interlocutor que gritava Jürgen! Jürgen! e logo soube tudo o que aconteceu. Duas porque um amigo nosso trafegava pelo local no instante do acidente e, diante da marca da empresa impressa no veículo, logo o identificou e nos transmitiu a notícia.

Na outra vez, era um Clio novinho. Não sei direito como tudo aconteceu. Só ouvia a história sob risos, dizendo que a estrada acabou e quando ele viu, já estava de cabeça para baixo. Não se machucou mas estas ocorrências só faziam aumentar nossa preocupação. Invariavelmente ele trabalhava até 10 ou 11 horas da noite e me ligava sem saber se voltaria para casa ou não. Claro que eu dizia que ele deveria dormir onde estivesse e muitas vezes era surpreendida duas horas depois, com ele entrando em casa. Ficava triste. No início, ficava aflita sempre que ele estava fora mas, com o tempo, fui desistindo porque todos os meus arrojos de preocupação só culminavam em discussões e mágoa porque ele não iria agir diferente, certo que estava de que nada de ruim poderia nos acontecer e, quanto a mim, não tinha absolutamente controle sobre ele. Vejo-o como um garoto levado, um jovem irreverente e um espírito jovem. Extremamente bom, não vê maldade nas pessoas e muitas vezes chegava em casa triste, sentava-se no escuro e tomava um whisky e me contava alguma maldade que havia experimentado. Nos últimos dias antes do acidente estava tão triste que nem mesmo um whisky poderia animá-lo. Apenas seu olhar me dizia que algo muito ruim estava acontecendo ou por acontecer e eu perguntava incessantemente, Baby, algo está acontecendo para você estar tão triste? E ele me dizia, não, está tudo bem! Mas eu sabia que não estava, havia alguma coisa ruim no ar...

O Jürgen tem uma beleza interior tão brilhante e contagiante que é como se Deus lhe desse licença para errar, porque todos os seus atos refletem sua bondade extrema e seu sorriso e olhar revelam uma alma pura, genuína, onde o mal não existe e enfrentar o dia-a-dia é pisar num território que se revela só para quem é capaz de ver a maldade, por conhece-la, mas não para ele que, a cada manhã, acordava as 05:45h e com um sorriso imenso no rosto, começava um novo dia!

Esta é uma história escrita em 8 capítulos por Regina Aparecida Laranjeira Baumann 

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