CAPÍTULO VII - A HISTÓRIA ATRAVÉS DAS FOTOS
Quem gosta de fotografias conhece o peso que elas carregam em si. Revi recentemente o filme Out Of Africa (Entre Dois Amores) onde a atriz Meryl Streep, num momento especialmente belo, apaixonada pelo personagem interpretado por Robert Redford, também em interpretação iluminada, afirma que em momento de profunda dor, realmente insuportável, pensava nos momentos maravilhosos que passaram juntos e, sobrevivendo àquela dor que era ainda maior, poderia sobreviver a qualquer outra.
Olhar nossas fotos sempre provoca uma grande tristeza e não só pela enfermidade do Jürgen, mas porque me foi estampado de forma cruel e fria que, como ensina Lulu Santos, autor que adoro porque fala a língua dos homens de nossa geração, nada do que foi será, de novo, do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre, passará!
Sempre fui capaz de congelar momentos. Congelei vários. Às vezes porque quis, outras porque o destino impôs. Vivi intensamente cada momento, fosse ele de alegria intensa ou dor profunda. De realização ou frustração. Não sou do tipo que deixa para amanhã o sentimento que posso ter hoje. O último momento que congelei foi de uma viagem que fizemos em mês de julho de 2013, um mês antes do acidente, ainda que sob os protestos do Jürgen, que afirmava não poder viajar por conta do excesso de trabalho e compromissos. Eu os presenteei, a ele e aos meus filhos, com essa viagem, fazendo todas as reservas antes, de forma que ele não pudesse fugir alegando qualquer dificuldade. Foram momentos importantes para nossa família, em lugares encantadores, viajando por estradas e pontes de muitos quilômetros, até chegar em Key West, onde a beleza do lugar e das histórias nos encantaram.
Imagem aérea da ponte para Key West
Divulgação
Assim como sei que tudo, absolutamente tudo, passa, resta apenas a nostalgia, como vemos em filmes, que buscam nos mostrar a realidade através das histórias de pessoas comuns e dos olhares de idosos, quando, perdidos no horizonte, demonstram estar com o pensamento em outra época. Essa certeza faz com que eu viva e congele momentos para deles me lembrar ciente de que os vivenciei, que não passaram desapercebidos e não poderei me arrepender por não tê-los aproveitado até a última gota do que representavam, alegria ou tristeza.
Se todas as experiências são importantes e não há nada certo ou errado, feio ou bonito, também não há nada que seja totalmente bom ou ruim. O acidente do Jürgen, apesar do horror, trouxe uma série de experiências boas, um sentimento de libertação. Quando chegamos ao âmago, entendemos o que realmente tem importância e o mais desaparece, simplesmente, como em um passe de mágica. Me lembro de ter ouvido sobre um sujeito que pulou da ponte Rio-Niterói e sobreviveu para contar que, durante a queda, todos os problemas que o levaram a pular haviam desaparecido. Entendo perfeitamente o seu sentimento porque quando ocorreu o acidente, tudo o mais deixou de ter importância. Vivenciei desde então uma série de situações emocionantes, de pessoas que se mostraram extremamente religiosas, rezando vários terços comigo na Capela do hospital ou homens grandes chorando como crianças, pela dor de ver o amigo gravemente enfermo.
No hospital, vivenciei tudo o que se pode imaginar, de médicos que fazem questão de te sintonizar com todas as possibilidades de tudo que pode dar de errado a enfermeiras carinhosas, cuidando do Jürgen com amor e que se tornaram verdadeiras amigas. No início, a dor que sentia era como, eu tentava explicar, estivesse engolindo arame farpado. Sei que não é possível engolir arame farpado mas acredito que se fosse, seria tão dolorido quanto a dor que sentia. Chorava copiosamente todas as vezes que acordava e me faltava ar para respirar. Não conseguia levar as crianças para escola sem chorar muito e sentia que me faltariam forças para andar. Quando você não tem alternativa, tudo está resolvido. A única certeza que tinha, e isto soa até engraçado neste momento, é que não poderia errar. É o mesmo sentimento que me envolveu quando engravidei e sabia que deveria fazer tudo o que era certo. O primeiro passo, quando decidimos engravidar, foi fazer o exame HIV. Lembro-me que naquela época pensei que um filho já começava a exigir o nosso máximo antes mesmo de existir porque, naquela altura, fazer um exame HIV era demais. Me recordo de ter ido buscar o resultado do exame com minha amiga (aquela do Please don’t go) e ficamos muito alegres quando o mesmo foi negativo, tão grande era o medo que sentíamos. Depois não deveria fumar, beber, etc.... quando o neném nasceu, cuidar 24 horas por dia, para que nada desse errado. Assim também pensei quando o Jürgen se acidentou, para não permitir que uma ação ou omissão pudesse provocar aquele sentimento, que deve ser horrível, aliás, de pensar que se tivesse feito assim ou de outra forma, o resultado teria sido diferente.
As fotos materializam as recordações e ainda que saibamos que nada do que foi será, de novo, do jeito que já foi um dia, independente de acidentes ou mortes, saber que aqueles momentos tão maravilhosos já se foram, provocam essa sensação, esse sentimento, que plasma dor e alegria que, acho, resume-se na palavra nostalgia.
LEIA TAMBÉM OS CAPÍTULOS ANTERIORES:
Capítulo I - Simplesmente Aconteceu
Capítulo II - Jovens, Livre, Apaixonados
Capítulo III - A Certeza da Verdade
Capítulo IV - O Casamento
Capítulo V - O Cotidiano
Capítulo VI - Au Revoir
Esta é uma história escrita em 8 capítulos por Regina Aparecida Laranjeira Baumann
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