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Aos 37 anos, Thiago Soares assina coreografia de 'Be-Marche: Noites de Berlioz'

Leves, porém precisos, os movimentos de um bailarino clássico exigem um trabalho intenso e minucioso para que se transformem nas coreografias inesquecíveis apresentadas nos principais palcos do mundo. Longe dos holofotes e distante dos olhos do público, o desafiador trabalho de coreografar um grande espetáculo insere o bailarino em outro patamar no universo da dança. E o brasileiro Thiago Soares, de 37 anos, é o mais recente entre os principais nomes do balé clássico a aceitar esse desafio e dar outro grande salto em uma carreira já consagrada.

Coreografado por Soares, o espetáculo Be-Marche: Noites de Berlioz está em cartaz deste sábado, 20, até 28 de abril no Theatro Municipal do Rio. A apresentação celebra os 110 anos da instituição e os 150 anos da morte do compositor francês Hector Berlioz. "O convite veio do diretor artístico do teatro, André Heller-Lopes, que já sabia que eu estava começando a criar alguns trabalhos como coreógrafo", conta Soares. "Venho me preparando para isso há pelo menos dois anos, e esse é o momento certo para aceitar um desafio assim."

A paixão de Soares pela dança teve início em uma companhia de hip-hop no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Mas aos 15 anos, trocou a música urbana pelo balé clássico, e dois anos depois, já atuava pelo Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Aos 22, ingressou no Royal Ballet, de Londres, uma das mais importantes companhias do mundo, onde, apenas quatro anos depois, assumiu o posto de primeiro-bailarino, posição mais importante e a mais desejada pelos bailarinos clássicos.

Ao longo de sua passagem pelo Royal Ballet, Soares desenvolveu o sonho de investir no trabalho coreográfico, plano este que, já há algum tempo, vem colocando em prática. Além disso, ele também alimentava o desejo de retornar ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro, casa onde deu início à carreira pela qual mantém grande respeito e admiração.

Para Be-Marche: Noites de Berlioz, Soares contará com 40 bailarinos, entre eles alguns grandes nomes da dança clássica brasileira, como Ana Botafogo e Cecília Kerche. A inspiração, segundo ele, é o sentimento de resistência que há décadas vem unindo o elenco do teatro. Além do corpo de balé do Municipal, o espetáculo será executado por sua orquestra, sob regência do maestro Carlos Prazeres.

Deixar o posto de primeiro-bailarino de uma grande companhia como o Royal Ballet para atuar como primeiro convidado sempre gera especulações sobre uma possível aposentadoria, e com Soares não foi diferente. "Não falo em aposentadoria. Esta é uma transição para eu começar a experimentar outras coisas. Para criar, dirigir e testar aquilo que aprendi é preciso espaço, e com a agenda do Royal, isso não seria possível", diz. "Se eu estivesse como primeiro-bailarino, não conseguiria me preparar para os próximos caminhos. Então meu diretor e eu encontramos um jeito de eu continuar atrelado à casa, fazendo as obras que ele gosta que eu faça. Fiz uma grande carreira lá e temos uma relação muito boa."

Crise

Mesmo à distância, Thiago Soares acompanhou o drama causado pela crise financeira que atingiu o Estado do Rio e afetou drasticamente o Theatro Municipal, deixando funcionários, inclusive bailarinos, sem receber salário ao longo de meses. Para sobreviver, em meio à rotina de ensaios, os bailarinos realizaram toda a sorte de serviços, do preparo e venda de bolos à atuação como motoristas de aplicativos. "Viver sem seu ganha-pão mexe com o pior da nossa existência. É como não poder viver", lamenta.

A recente extinção do Ministério da Cultura e escassez de investimentos nas artes também preocupam o bailarino, que ao longo da crise que atingiu o teatro, viu crescer seu respeito pela instituição. Para ele, a falta de incentivo à cultura contribui para que grandes talentos busquem oportunidades no exterior. "É muito importante a gente continuar instigando a chama cultural. O Municipal do Rio é uma grande referência na América Latina. Fazer algo aqui tem tudo a ver com isso."

Atacar a cultura é, segundo Soares, como "atirar nos dois pés". "Toda grande nação que entende sua potência sabe muito bem que a cultura é parte de sua identidade. Sua cultura é o famoso soft power. Saúde, educação e cultura são nossos pilares. Eu sou um soldado da cultura, então vou fazer o que puder e marchar junto."


As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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