Imagem de Nossa Senhora Aparecida no sambódromo de São Paulo
Pedro Ivo Prates/Meon
Passistas e fiéis unidos na avenida. O Carnaval 2017 de São Paulo vai marcar a história da maior festa popular do Brasil com uma homenagem especial aos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida às margens do Rio Paraíba do Sul, em Aparecida.
Com o enredo “Aparecida - a Rainha do Brasil, 300 anos de amor e fé no coração do povo brasileiro”, a escola de samba paulistana Unidos de Vila Maria teve o aval do comando da Igreja Católica e a benção do arcebispo de São Paulo, cardeal dom Odilo Scherer, para celebrar a santa considerada a padroeira do país.
Ouça o samba-enredo da Unidos de Vila Maria.
Mas Carnaval e religião juntos?
O assunto é polêmico e sempre foi evitado em todos os níveis da igreja. Algumas tentativas de retratar a fé na avenida foram frustradas como aconteceu em 1989 no Rio de Janeiro.
Um cardeal proibiu a imagem de Jesus Cristo no desfile da Beija-Flor de Nilópolis e o carnavalesco Joãosinho Trinta cobriu a estátua com um pano preto em forma de protesto. No lugar uma faixa estampava: “Mesmo proibido, olhai por nós”.
Para tentar convencer o alto escalão da Igreja Católica, o presidente da Unidos de Vila Maria, Adilson José de Souza, se reuniu com dom Odilo para apresentar a proposta da homenagem, ter o aval da igreja e pedir consultoria para a elaboração de toda a produção do Carnaval ao longo dos últimos meses.
Depois da visita, dom Odilo apresentou o pedido feito pelo carnavalesco aos cardeais. O assunto entrou em votação e por unanimidade os representantes da maior igreja do país deram sinal verde para a homenagem à padroeira.
Mas o aval da Igreja veio com um pedido especial de dom Odilo à escola: mulheres e homens sem nudez e o retrato fiel de Nossa Senhora Aparecida. Souza garantiu que o desfile será bem tranquilo e comportado, sem a exibição de cenas de nudismo nem erotismo, como pediram bispos e cardeais.
“A homenagem aos 300 anos da imagem surgiu em uma conversa com o parceiro de Carnaval Renato Cândido, que trabalha com captação e desenvolvimento de projetos. Vimos a grandeza da ideia e o quanto seria honroso desenvolver o projeto”, disse Adilson.
Segundo ele, a igreja teve uma aceitação positiva sobre a homenagem à santa. “É claro, no início ficaram apreensivos, mas viram como a escola é responsável. Estamos fazendo um projeto muito positivo”, disse. “Para a nossa alegria e também para o povo brasileiro, a ideia foi aprovada por unanimidade, reconhecendo o quanto amamos a Nossa Senhora, o quanto ela fez por nós e continuará fazendo”, completou.
Um misto de prece, adoração e celebração ao amor pela santa serão traduzidos em respeito, devoção e oração em pleno sambódromo paulistano, garante o presidente. No ano passado, a escola teve como tema “A Vila Famosa é mais Bela, Ilhabela das Maravilhas”, desfilando as lendas e histórias do arquipélago do Litoral Norte. A escola conseguiu conquistar o quinto lugar.
Como no enredo, os sambistas Leandro Rato, Zé Paulo Sierra, Almir Mendonça, Vinicius Ferreira, Zé Boy e Silas Augusto pedem para iluminar com fé a jornada na primeira noite de desfile do grupo especial de São Paulo, no dia 24 de fevereiro.
Adilson explicou que a Unidos de Vila Maria teve o aval de Roberto Carlos, devoto da padroeira do Brasil, para usar trecho da canção Nossa Senhora na largada do samba-enredo. A escola não vai ter rainha.
Atriz Isabel Fillardis será o destaque da escola que homenageia santa.
“Neste ano, entendemos que num reinado só cabe uma única rainha e a nossa não será a da bateria, mas sim de toda a nossa escola, de toda uma nação”, disse. “Nossa Senhora Aparecida irá abençoar o nosso Carnaval. É o conjunto perfeito, não? Neste momento, com a visibilidade do Carnaval e com a força da santa e a grandeza que ela tem sobre nós, será um feito muito especial.”
Uma das novidades no elenco da Unidos de Vila Maria neste ano foi a chegada do carnavalesco Sidnei França, que depois de 12 anos na Mocidade Alegre ter participado da conquista de seis títulos, promete levar aos fiéis - e até mesmo quem estiver em casa - a emoção de estar na avenida.
Leia MaisFolia deve atrair 10 mil pessoas no sábado de Carnaval em TaubatéCarnaval: arrase na maquiagem sem prejudicar a saúde da pele
“Além de falarmos de religiosidade e fé, estamos contando um pouco da história do país durante esses 300 anos. O brasileiro toma algumas decisões baseadas na fé em Nossa Senhora. Alguns milagres, ações e liberdade de expressão, fatos importantes e até desconhecidos serão colocados na avenida para que todos entendam a força da santa”, contou França.
Segundo ele, a igreja acompanhou todos os preparativos, desde a confecção das fantasias até a montagem dos carros alegóricos. O carnavalesco lembrou que a igreja solicitou três pedidos para o desfile: “Nos locais em que a Nossa Senhora fosse representada não existisse qualquer tipo de manifestação; que não fossem feitas associações da santa com outras religiões; e que não tivesse sensualidade. Com isso, as fantasias não vão marcar os seios das passistas, por exemplo, e não haverá nudez. Todas as roupas vão ser mais fechadas, estamos tratando tudo com respeito”, contou França.
O carnavalesco disse ainda que o enredo traz uma reponsabilidade muito grande e todos os colaboradores tomaram diversos cuidados para não fazer uma ‘Torre de Babel’, porque se de alguma forma não tivesse o controle racional e emocional, a escola poderia se perder diante da vaidade e do que envolvem o Carnaval.
Boleto
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.