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Nepal: Bhaktapur e Patan mantêm aura de cidades

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Atmosfera da cidade apresenta clima de monarquia do século 12

Divulgação/Creative Commons/Jenneu Menjoulet Cie. 

O passado é figura mais que presente no Vale de Katmandu, berço do Nepal como se conhece hoje. Entre os séculos 12 e 16, a região concentrava três poderosas cidades-Estado: Bhaktapur, Katmandu e Patan. A monarquia já não reina, mas a maior parte desse legado está em bom estado. Sem falar na atmosfera das cidades que, apesar do trânsito e de outros poréns, aparentam preservar uma aura meio medieval.

A 45 minutos de Katmandu, Bhaktapur ostenta seu lado medieval. Após pagar a entrada de 1.000 rupias (R$ 24), escolha um guia, no (chato) esquema "quer pagar quanto?". É um aborrecimento, mas respire fundo e contrate o seu. Enfrentei meus preconceitos e me acertei com o que tinha a cara mais marrenta. Dei sorte, Krishna Sylpakar, assim como Kedar Puri (o guia de Katmandu) gostava muito do que fazia.

Após atravessar o portão, adentra-se o Durbar Square, com leões de pedra tão bem esculpidos que, dizem, o rei Bupathindra Malla mandou cortar as mãos do artista para que nunca mais fizesse algo tão belo para outro monarca.

O Golden Gate separa a praça do Palácio Real, de 1753, também conhecido como Palácio das 55 Janelas - uns dizem que por conta do número de mulheres que o rei tinha na época, outros atribuem o número à idade do governante.

Na sala de oração do rei, um soldado evita a entrada de estrangeiros, que podem apenas espiar. Ali, em outubro, durante o Dashain Festival, 108 búfalos são sacrificados para divindades - tudo termina em grandes churrascos.

Não perca a piscina em formato de cobra, com um sofisticado sistema hidráulico para captar água do Himalaia. A fonte, em formato de cabeça de naja, impacta. Segundo o guia, a serpente representa Vishnu, deus da proteção, enquanto os outros dois principais deuses hinduístas - Brahma, da criação, e Shiva, da destruição - são venerados noutros rincões.

Kama-sutra 
Homônimo ao grande templo de Pashupatinath, que significa templo de shiva, o de Bhaktapur conta 24 colunas de madeira com desenhos eróticos entalhados nos suportes do teto. Tudo ao ar livre, um Kama-Sutra em praça pública.

O guia Krishna apontou a diferença entre os três principais estilos arquitetônicos dos templos: as stupas são cônicas e principalmente usadas no budismo; as chicodas têm torres quadriláteras com estilo rebuscado, tipicamente hinduísta; e as pagodas agrupam edifícios com três ou mais telhados quadrados sobrepostos - a bandeira nepalesa consiste de dois triângulos, um sobre o outro, que representam um ângulo das pagodas, símbolo do país.

Do alto dos cinco andares do templo Nyatapola, curta uma das mais belas vistas da cidade e admire a construção de 1702, erguida em homenagem a Siddha Laxmi, deusa hindu da prosperidade A cada degrau, uma estátua: homem, elefante, leão, grifo (ser mitológico com cabeça de águia e garras de leão) e, lá em cima, os deuses Singhini e Baghini.

Singelo 
A pequena e bela Patan, a 20 minutos de Katmandu, não merece ser perdida. Comece com um almoço no terraço do Taleju Restaurant, de onde uma bela panorâmica sobre templos e monastérios acompanha um clássico dhal-bat, o arroz com lentilhas, geralmente guarnecido por frango ao curry. Depois, caminhe pelo templo de Krishna, de 1516, em cujas laterais há esculturas sobre episódios do Maábarata, livro épico indiano com mais de 70 mil versos em sânscrito.

Grande atração de Patan, o Templo Dourado, do século 12, é repleto de divindades de bronze e reúne algo único e muito especial: brilhantes estátuas de Shiva e Bishnu, ícones hindus, ao lado de sete Budas, em diferentes posições de mão, os mudras.

Contudo, o mais incrível em Patan é ver as pessoas ocupando as ruas e praças, usando - respeitosamente - os níveis dos templos como bancos. Crianças de bicicleta, bolas de futebol, a vida acontece ao ar livre. Uma sorridente menina de 11 anos me chamou a atenção pelos seus traços simétricos e enormes olhos verde-escuros. Mesmo após 20 dias no Nepal, não consegui imaginar sua casta. Pedi, então, para que o guia lhe traduzisse minha questão. Ao que ela respondeu sem pestanejar: "Sou muçulmana, com muito orgulho". Pelo jeito, tanto nos templos, como nas ruas, coexistência religiosa é o mantra comum.

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