Na véspera de Hamilton Mourão assumir provisoriamente a Presidência da República, pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro avaliam que a passagem do vice pelo cargo não deve ser turbulenta, mas mantêm a vigília sobre o general.
Ainda que moderado, o estado de alerta se explicaria por uma fase de Mourão que o núcleo bolsonarista acredita ter ficado para trás: quando o general atuava como um "contraponto" ao presidente.
Mourão deve responder pela Presidência de domingo, 8, a quinta-feira, 12. Bolsonaro reassume o cargo no dia seguinte, 13. No período ausente, o presidente se recupera de cirurgia para correção de hérnia incisional, consequência do atentado que sofreu há um ano e que levou à realização de três cirurgias.
A previsão dos médicos é a de que Bolsonaro repouse por dez dias em São Paulo. Ainda assim, o presidente pretende montar um gabinete no hospital e voltar a despachar cinco dias após a operação.
Na segunda-feira, 9, Mourão vai a São Paulo para participar da Conferência Anual do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). No mesmo dia, ele deve visitar o presidente Bolsonaro no Hospital Vila Nova Star.
Segundo assessores de Mourão, o general não deve participar de grandes eventos ou assinar atos de impacto na passagem pela Presidência, como fez em janeiro. Presidente interino à época, Mourão editou decreto para ampliar poderes de impor sigilo a documentos públicos. O texto foi sustado por decisão na Câmara no mês seguinte, marcando a primeira derrota do governo no Legislativo.
O auge da disputa de Bolsonaro e Mourão ocorreu em abril. Aliado do presidente, o deputado Marco Feliciano (Podemos-SP) chegou a apresentar pedido de impeachment contra o general, sob acusação de "conduta indecorosa, desonrosa e indigna" e de "conspirar" para conseguir o cargo de Bolsonaro.
Procurado, Feliciano disse que Mourão está em nova fase, mas afirma que permanece "de olho" no general. "A nova postura do vice é aquela esperada desde o início do mandato: respeito ao presidente. Ele ouviu, ainda que não assuma, os meus conselhos. Que se mantenha assim. Serão poucos dias. Todavia, estarei de olho", afirmou o pastor.
Ainda em abril, o escritor Olavo de Carvalho, ligado à ala ideológica, e o vereador Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente, despejaram críticas a Mourão nas redes sociais. Dias antes, Bolsonaro havia sugerido a aliados que Mourão atuava como presidente paralelo, conforme apurou o Estado.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em agosto, Mourão disse não estar "calado". "Eu estou apenas cuidando do meu quadrado. O presidente está falando porque tomou para si a comunicação, assumiu o protagonismo. É uma estratégia que ele traçou", disse.
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