No Dia Nacional de Controle da Asma, lembrado em 21 de junho, a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), ressalta a importância de ampliar o olhar sobre a saúde respiratória e alerta para uma relação ainda pouco conhecida pela população, que é a associação entre a asma e a rinossinusite crônica com polipose nasal (RSCcPN).
Embora sejam doenças diferentes, ambas fazem parte de um mesmo processo inflamatório que afeta as vias aéreas superiores e inferiores. A conexão é tão próxima que, na literatura médica, é descrita como "doença das vias aéreas unificadas".
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), cerca de 20 milhões de brasileiros sofrem com a doença. Em 2024, um levantamento do Ministério da Saúde revelou que, entre 2019 e 2023, a asma matou quase 12 mil pessoas no país. A condição, caracterizada por inflamação crônica dos brônquios, pode gerar crises frequentes de falta de ar, tosse e chiado no peito.
A RSCcPN, por sua vez, provoca obstrução nasal persistente, secreção espessa, dor facial e perda do olfato, em razão da formação de pólipos nos seios da face. Quando essas condições coexistem, o tratamento tende a ser mais desafiador e o controle dos sintomas, mais difícil. Um estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), por exemplo, apontou que cerca de 17% dos pacientes com asma também apresentam rinossinusite crônica com pólipos, e esses casos estão frequentemente associados à forma mais grave da doença.
De acordo com o médico otorrinolaringologista Dr. Miguel Tepedino, que é presidente da Academia Brasileira de Rinologia (braço acadêmico ABORL-CCF), o tratamento isolado de uma das condições pode não ser suficiente. “Asma e rinossinusite com pólipos não são doenças desconectadas. É fundamental que o diagnóstico de uma leve à investigação da outra. Quando tratamos o nariz, frequentemente conseguimos controlar melhor os sintomas pulmonares também, tendo em vista que a associação entre essas doenças é complexa e multifatorial, envolvendo fatores genéticos, ambientais e imunológicos”, explica.
A ligação entre essas enfermidades está na chamada inflamação tipo 2, um processo imunológico que atinge tanto o nariz quanto os pulmões, provocando sintomas persistentes e inflamação de difícil controle. A abordagem terapêutica, por isso, precisa ser integrada e personalizada. De acordo com o médico, além da avaliação clínica, exames como tomografia dos seios da face, endoscopia nasal, testes alérgicos, espirometria e dosagem de marcadores inflamatórios podem ser indicados para um diagnóstico preciso.
Nos pacientes com rinossinusite crônica com pólipos nasais (RSCcPN), o manejo inicial é clínico. Quando a resposta ao tratamento medicamentoso não é satisfatória, indica-se o procedimento cirúrgico, que apresenta elevada taxa de controle da doença. Para os casos refratários mesmo após a cirurgia, pode-se considerar o uso de terapias imunobiológicas, conforme os critérios estabelecidos no Consenso Brasileiro de 2024 para indicação de imunobiológicos na rinossinusite crônica. Essas terapias atuam diretamente no processo inflamatório, sendo eficazes na redução dos sintomas e na melhora da qualidade de vida desses pacientes.
“Falta de ar, chiado no peito, cansaço frequente, nariz entupido constante, secreção espessa ou perda de olfato não devem ser ignorados. Por isso, a recomendação é procurar um especialista”, alerta o Dr Miguel. Ele reforça, ainda, que o paciente que é bem diagnosticado tem mais chances de alcançar o controle dos sintomas e evitar agravamentos futuros.
Cuidados simples com o nariz que ajudam a proteger os pulmões
Manter a saúde nasal em dia é uma estratégia eficaz para prevenir crises respiratórias e melhorar o controle da asma. Veja algumas recomendações do especialista:
Higienização nasal regular com solução salina ajuda a remover alérgenos, poluentes e secreções, reduzindo a inflamação local.
Evitar exposição a ambientes com baixa umidade, fumaça ou poeira contribui para a redução de irritações nas vias aéreas.
Ficar atento a sinais como congestão nasal, perda de olfato e secreção espessa pode indicar a necessidade de avaliação médica.
Acompanhamento multidisciplinar com otorrino, pneumologista e alergista é essencial para pacientes com sintomas persistentes.
Evitar a automedicação e buscar orientações seguras antes de usar descongestionantes ou corticoides nasais.
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