O clima de cautela continuou pairando sobre mercado de juros nesta tarde de terça-feira, 9, com o investidor de olho no andamento da sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara em que será lido o parecer do relator Marcelo Freitas (PSL-MG) sobre a reforma da Previdência. A percepção de que, ao menos até o término da etapa regular, os trabalhos corriam dentro do esperado, a despeito das tentativas de obstrução da oposição, levou as taxas a reduzirem um pouco o avanço e a saírem das máximas registradas pouco antes do início da sessão da CCJ. O exterior nesta terça no modo "risk off", em boa medida decorrente das revisões em baixa do FMI para o PIB mundial, também não ajudou.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 fechou em 6,490%, de 6,475% na segunda no ajuste, e a do DI para janeiro de 2021 passou de 7,05% para 7,09%. A taxa do DI para janeiro de 2023 avançou de 8,202% para 8,25% e a do DI para janeiro de 2025, de 8,762% para 8,79%.
"Tudo está correndo como esperado na CCJ, sem sustos até agora", disse um gestor para justificar um pouco de alívio no fim da sessão, que teve, mais uma vez, baixa liquidez. O profissional explica que a "confusão" na arena política nas últimas semanas fez muitos investidores zerarem suas posições vendidas e, agora, aguardam fatos concretos na evolução da tramitação para retornarem.
Depois do tumulto da CCJ na semana passada, o mercado ampliou a cautela sobre a sessão desta terça. Como esperado, a oposição tentou protelar a leitura do relatório, lançando uma série de questões de ordem, mas os governistas conseguiram aprovar requerimento para inverter a pauta e acelerar o processo. Com a sessão regular do mercado de juros já encerrada, a oposição apresentou requerimento para retirar a reforma da pauta do dia e ainda tentava outros movimentos para protelar a leitura. A expectativa é de que o relatório preserve a proposta original encaminhada pelo Executivo.
A postura mais defensiva já era vista pela manhã, após uma série de ruídos que expuseram as dificuldades que o governo deve enfrentar, a começar das declarações de segunda à noite do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele disse que vai trabalhar pela aprovação da reforma, mas não vai ser articulador político para não ficar "levando pancada". O risco de desidratação da economia fiscal também está sendo monitorado. Na Câmara, pesquisa feita pela XP Investimentos com 201 deputados aponta que 42% dos parlamentares condicionam o apoio à reforma a "algumas alterações". O formato do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e as mudanças na aposentadoria rural são as maiores resistências.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, atuou nesta terça junto a prefeitos para angariar apoio à reforma, acenando com recursos, ao participar da Marcha dos Prefeitos. O ministro pretende já no ano que vem transferir para Estados e municípios 70% dos recursos que a União arrecadar com o pré-sal.
Outro evento que esteve na mira do mercado foram as reuniões do presidente Jair Bolsonaro com lideranças dos partidos, mas estas, a exemplo daquelas com as quais se encontrou na semana passada, sinalizaram que vão apoiar a reforma da Previdência com ressalvas e sem fechar questão. O ex-ministro Alfredo Nascimento (PR), porta-voz da sigla na conversa, afirmou que o partido "vai estar junto nessa empreitada", mas defenderá mudanças em trechos que tratam do BPC, da aposentadoria rural e da contribuição de professores. Já o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força (SP), sugeriu ao presidente retirar da proposta a adesão automática de Estados e municípios à reforma. Segundo ele, Bolsonaro sinalizou interesse na ideia, mas o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, adotou tom mais cauteloso.
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