As três listras da Adidas, símbolo global do esporte e da cultura urbana, vêm ganhando um significado inusitado e preocupante em comunidades da Bahia e do Rio de Janeiro. O logotipo, tradicionalmente associado a desempenho e superação, estaria sendo interpretado como um código de facções criminosas: o número “3”, presente nas listras, teria sido adotado pelo Bonde do Maluco (BDM), enquanto o “2” representaria o Comando Vermelho (CV).
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A informação, que ainda não foi confirmada oficialmente por autoridades de segurança, tem gerado apreensão entre moradores, que relatam casos de intimidação, ameaças verbais e um clima de medo crescente. Em alguns bairros, o temor é tanto que há quem evite usar roupas, bonés ou tênis da marca para não ser confundido com integrantes de grupos criminosos.
Em Salvador, um comerciante contou ao Correio 24 Horas que foi abordado por um homem enquanto vestia uma camiseta da Adidas. “Ele disse: ‘Aqui é dois, não é três. Cuidado com o que veste’”, relatou. O episódio o levou a deixar de usar qualquer peça da marca. Situações semelhantes teriam ocorrido em bairros como Pituba e Pau da Lima, onde moradores afirmam ter recebido avisos informais sobre “não usar Adidas”.
No Rio de Janeiro, o símbolo também estaria sendo associado ao Terceiro Comando Puro (TCP). Nas redes sociais, vídeos, prints e áudios multiplicaram a narrativa, fortalecendo a ideia de que o logotipo da marca teria virado um “código de facção”. Apesar da repercussão, até o momento não há registro oficial que comprove uma determinação das organizações criminosas sobre o uso de roupas específicas.
Para especialistas em segurança pública e cultura urbana, o episódio mostra como o crime organizado se apropria de elementos do consumo e da estética para marcar território e impor códigos de identidade. “O poder simbólico é uma das formas mais eficazes de dominação social.
Quando um grupo consegue determinar o que pode ou não ser usado em determinado espaço, ele exerce controle sobre a vida cotidiana”, explica o sociólogo Rodrigo Reis, pesquisador de violência urbana. Essa apropriação de símbolos traz efeitos que vão além do medo direto: comerciantes evitam expor produtos da marca em determinadas regiões, e moradores relatam autocensura no modo de se vestir, com receio de serem mal interpretados.
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia afirmou que não há registros formais de ocorrências relacionadas ao uso de roupas da Adidas, mas recomenda que qualquer ameaça ou intimidação seja comunicada à polícia. Especialistas alertam ainda para o perigo da propagação de boatos, que podem gerar pânico coletivo e reforçar o poder das facções no imaginário social. “Muitos desses códigos têm alcance local e são fluidos. O problema é quando se tornam narrativas amplificadas pela internet, afetando até quem nunca teve contato com o crime”, diz o pesquisador.
O caso revela uma nova dimensão da disputa simbólica nas cidades brasileiras: o controle dos significados. Quando marcas globais e códigos criminais se cruzam, a fronteira entre identidade e sobrevivência se torna cada vez mais tênue. Por enquanto, o que se sabe é que o símbolo criado em 1949 para representar esforço e superação acabou ressignificado por contextos de medo e insegurança — transformando-se, em algumas regiões, em um inesperado sinal de alerta.
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