SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em 18 capitais brasileiras, a taxa de ocupação de leitos para casos graves da Covid-19 em UTIs ultrapassa 90% . Porto Alegre, Porto Velho e Rio Branco não têm nenhum leito disponível, segundo levantamento da Folha.
A escalada de novos casos da doença colapsou hospitais pelo país. No início do mês, eram dez as capitais com mais de 90% de leitos de UTI em uso. Com a falta de vagas na rede de saúde, prefeitos e governadores começaram a adotar lockdowns e medidas mais restritivas de circulação.
Os três estados do Sul continuam com números alarmantes para tratar pacientes críticos. O Rio Grande do Sul tinha nesta terça-feira (16) apenas 11 vagas de UTI públicas.
Em Porto Alegre, a superlotação continua. A cidade chegou a ter contêiner instalado em hospital privado para abrigar corpos das vítimas do coronavírus. Com o atual estágio da pandemia no estado, outras alas hospitalares são usadas para atender pacientes críticos.
Em Santa Catarina, que manteve medidas restritivas em vigor apenas nos fins de semana, 387 pessoas aguardavam na fila por leitos de UTI na tarde desta terça. Entre as 933 vagas destinadas apenas para pacientes com Covid-19, restavam apenas 21, com média de ocupação girando em torno de 98%. Em Florianópolis, restavam apenas três leitos.
Já no Paraná, a fila por vagas continua com mais de mil pessoas pela terceira semana seguida -são agora 1.320.
Na semana passada, a prefeitura da capital transformou Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em mini-hospitais para atender os doentes. Desde então, as filas são crescentes.
As dificuldades vão além da escassez de vagas. O governo emitiu um alerta aos hospitais diante da iminente falta de medicamentos usados para intubação de pacientes. O estoque atual deve durar apenas até quinta-feira (18). Unidades que dependem de cilindros de oxigênio para auxiliar pacientes também não estão conseguindo reabastecer o produto.
"Os hospitais que têm usinas ou tanques de oxigênio estão numa situação mais tranquila, mas quem utiliza cilindros está tendo dificuldade porque é a demanda por trocas é mais rápida, há falta de cilindros e entraves de logística", afirmou o presidente da Femipa (Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná) e do Sindipar (Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná), Flaviano Feu Ventorim.
Em Rio Branco, os dois únicos hospitais públicos com leitos de UTI exclusivos para Covid-19 estão sem vagas. No estado, só há vaga disponível no município de Cruzeiro do Sul.
"E são leitos virtuais, porque temos uma fila de 15 pessoas esperando leito de UTI. Se tem um dia que tem uma ou duas vagas no sistema é porque, naquele momento, alguém morreu ou recebeu alta, mas já tem outros esperando", disse o médico Guilherme Pulici, que é presidente do sindicato da categoria no estado.
Pelo colapso na capital, aumentou a procura de quem busca se tratar em casa, segundo Pulici, pressionando a demanda por oxigênio.
"Está começando a corrida pelos cilindros porque está tudo lotado, colapsado. Na rede pública há relatos de escassez de oxigênio na rede privada, estamos na iminência de acabarem sedativos para intubação e já começaram as transferências de pacientes para outros estados. Acho que podemos repetir o cenário de Manaus."
Em Porto Velho, há mais de um mês não há vagas de UTI para pacientes com Covid-19. Doentes estão sendo transferidos às pressas para outras cidades. Em Rondônia, a taxa de ocupação é de 98%.
Nas capitais do Centro-Oeste, Goiânia criou mais 17 leitos em uma semana, mas isso não foi suficiente para desafogar os hospitais. De 98% na última semana, o índice de ocupação chegou a 99% nesta terça-feira (16). No estado, a ocupação se mantém em 98%, como na última semana.
Já em Cuiabá e na região da Baixada, os hospitais estão com 92,2% de ocupação, ligeiro recuo em relação aos 95% da última semana. Dos 258 leitos (incluindo municipais e federais), 238 estavam em uso. A média é inferior à do estado, que ficou em 94,8% (475 internados em UTIs adulta e pediátrica).
O cenário também é crítico em Mato Grosso do Sul. Em todo o estado, são 347 vagas em UTIs para adultos e, nesta terça, havia 353 internados com suspeita ou confirmação de infecção. Considerando também os leitos pediátricos, a taxa de ocupação gira em torno de 99%. Em Campo Grande, o índice atingiu 94% -três pontos percentuais a mais que na semana passada.
Palmas, que já viveu situação mais confortável em hospitais, atingiu 97% de ocupação de UTIs nesta semana. O decreto que suspende as atividades não essenciais na cidade acaba nesta terça (16).
Em Pernambuco, o sistema de saúde continua em colapso. Mesmo com a abertura de 185 novos leitos, a taxa de ocupação aumentou de 95% para 96% em uma semana.
Diante do quadro, o governador Paulo Câmara (PSB) anunciou nesta segunda uma quarentena rígida entre os dias 18 e 28 de março, apenas com serviços essenciais liberados para operar. Bares, restaurantes, praias, parques, shoppings centers, por exemplo, ficam fechados.
Em Natal, a ocupação de leitos segue a crítica taxa de 95% de uso. O estado chegou a ter 127 pessoas na fila à espera por leitos de UTI.
Segundo o secretário estadual de Saúde, Cipriano Maia, apesar da previsão de abertura de novos leitos, o governo tem enfrentado dificuldades na expansão, especialmente com recursos humanos. Ele cita ainda a escassez de equipamentos e medicamentos para intubação.
"A corrida por leitos de UTIs não salva vidas. Muitas pessoas morrem pós-intubação. O que nós precisamos é frear o contágio", disse.
Em Vitória, o salto na ocupação de leitos preocupa: passou de 80% para 95% em apenas uma semana.
"Fechamos [domingo] com 88% de ocupação de leitos de UTI. Estamos chegando ao nosso limite e essa última noite foi de muita pressão com pacientes demandando leitos", afirmou o governador Renato Casagrande (PSB) em transmissão nas redes sociais.
Minas Gerais deve entrar na fase roxa, com medidas mais severas como toque de recolher das 20h às 5h.
Em Belo Horizonte, a taxa de ocupação das UTIs é de 89,7%.
"Estamos vivendo um momento de alta taxa de incidência e ocupação de leitos. É a primeira vez que as unidades de saúde de todas as regiões estão sobrecarregadas", explicou o secretário estadual de Saúde, Fábio Baccheretti.
Em São Paulo, onde começou na segunda-feira (15) a fase emergencial, com medidas mais extremas de restrição, 63 municípios atingiram 100% de ocupação dos leitos de UTI.
A taxa chegou a 90,5% na Grande São Paulo, 89% no geral do estado e 83% na capital paulista.
Nos próximos 15 dias, o governo do estado deve entregar um novo hospital de campanha, que funcionará no bairro de Santa Cecília (centro), com 130 leitos de enfermaria e 50 de terapia intensiva. O equipamento contará com 900 funcionários.
A cidade do Rio de Janeiro continua com ocupação acima de 90%, apesar de um aumento no número de leitos públicos de 507 para 602 na última semana. Os atendimentos na rede básica de saúde estão crescendo e a fila por transferências, que no início do mês estava zerada, chegou a 96 pessoas nesta terça.
Mesmo assim, o prefeito Eduardo Paes (DEM) decidiu flexibilizar na semana passada as restrições que havia imposto, liberando comércio nas praias e ampliando o horário de bares e restaurantes até as 21h. No estado como um todo, a porcentagem de UTI cheias também sobe rápido -foi de 69% para 76% em sete dias.
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