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"Nunca imaginei o peso da palavra paz", diz brasileira que mora em Israel

Nathalie Levy vive sob tensão quase constante

Escrito por Meon

17 JUN 2025 - 13H00 (Atualizada em 17 JUN 2025 - 13H24)

Reprodução

A brasileira Nathalie Levy, de 37 anos, vive em Petach Tikva, cidade a cerca de 20 minutos de Tel Aviv. Mas foi apenas recentemente, em meio a sirenes, mísseis e abrigos subterrâneos, que ela passou a compreender o verdadeiro significado da palavra "paz".

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Nascida em São Paulo e morando em Israel há alguns anos, Nathalie vive hoje sob a tensão quase constante de uma zona de conflito. Casada com um israelense e mãe de uma menina de três anos e meio, ela relatou ao Terra os momentos de terror vividos após um míssil iraniano atingir seu bairro, em abril deste ano.

"Foi a duas quadras do meu prédio. O impacto foi tão forte que estilhaços quebraram janelas e portas dos apartamentos vizinhos", conta. Apesar da violência da explosão, seu apartamento no sexto andar escapou dos danos — uma vizinha entrou no local com a chave reserva para verificar.

Desde 7 de outubro de 2023, quando militantes do Hamas invadiram o sul de Israel e lançaram centenas de foguetes, a vida da família entrou em estado de alerta permanente. Com o início do recente confronto direto com o Irã, a tensão atingiu novos níveis.

"Recebemos alertas no celular e temos só um minuto e meio para alcançar um bunker ou um quarto seguro. É um medo constante", relata Nathalie.

Durante a entrevista, esse medo se materializou: as sirenes voltaram a tocar. Com a voz acelerada, ela interrompeu a ligação: "Vou ter que cortar. Estou chamando todo mundo, o alarme acabou de tocar." Uma hora depois, voltou a falar, aliviada: "Abateram todos os mísseis".

Fugir de casa, mas sem saber por quanto tempo

Temendo ataques na região central do país, Nathalie e o marido decidiram deixar o apartamento dias antes do ataque iraniano. Pegaram a estrada com a filha e uma mochila com roupas para três dias, rumo ao kibutz onde mora a cunhada, próximo à Faixa de Gaza.

No meio do caminho, porém, mais uma surpresa: as sirenes começaram a tocar quando pararam em um posto de gasolina. Sem tempo ou abrigo por perto, a única opção foi correr para o bunker do local. "Só mulheres e crianças puderam entrar. Meu marido teve que esperar do lado de fora", lembra ela.

O que era para ser uma estadia breve no kibutz se transformou em uma mudança provisória de vida. “É uma área menos visada, por ser mais afastada. No centro, onde moramos, é sempre mais perigoso”, explica. "O barulho das explosões é tão forte que, quando estamos no prédio, as paredes chegam a tremer."

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"Minha filha mudou. Eu também"

A rotina da pequena família está completamente alterada. Desde o início da guerra, Nathalie afirma não dormir uma noite inteira. “Acordo diversas vezes por noite, com medo da sirene tocar. Nem ir ao banheiro é seguro, se tocar, não dá tempo.”

Sua filha, que já passou metade da vida em um país em guerra, também começa a sentir os efeitos emocionais do conflito. "Antes era uma criança independente. Agora quer colo o tempo todo. Chorou pela primeira vez ao ouvir o estrondo dos mísseis", conta.

Com a rotina escolar suspensa e os dias marcados por incertezas, Nathalie tenta preservar alguma sensação de normalidade. Mantém contato diário com a família no Brasil por WhatsApp, enviando fotos e vídeos. “Prefiro que saibam por mim o que está acontecendo. No início, meus pais chegaram a ser internados de nervoso.”

Entre a crítica e a permanência

Nathalie não esconde suas críticas à condução política do conflito. "Não concordo com a forma como Netanyahu está lidando com a guerra. Mas, no caso do Irã, quando eles declararam que estavam perto de concluir a bomba nuclear, se Israel não atacasse, seria atacado. E de uma forma muito pior."

Ela também enfrenta o dilema de milhares de famílias mistas em Israel: partir ou ficar. "Me perguntam se eu sairia do país. Mas deixaria meu marido? Ele trabalha, não pode sair. É uma decisão muito difícil."

Enquanto tenta encontrar equilíbrio em meio ao caos, Nathalie repete o que aprendeu vivendo sob ameaça constante: “Nunca imaginei o quanto a palavra paz pode ser tão valiosa. Hoje, ela significa tudo para mim.”

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Fonte: Terra



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