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Percepção da esquerda brasileira sobre Joe Biden está completamente errada, diz Glenn Greenwald

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Para o jornalista Glenn Greenwald, a percepção que a esquerda brasileira tem sobre Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos, está completamente errada.

"Política não é sobre quem você gosta como ser humano. Biden tem 50 anos no poder, e é muito claro o que ele vai defender, qual ideologia vai implementar. Ele não é Lula, não é Evo Morales, não é contra a guerra, não é socialista."

Glenn, que nasceu em Nova York, fez carreira nos EUA e se mudou para o Rio de Janeiro em 2005, foi entrevistado pela colunista da Folha Mônica Bergamo neste sábado (7). O jornalista afirmou que Biden teve participação importante na Guerra do Iraque, foi eleito senador defendendo os interesses dos bancos e também contribuiu com a aprovação de leis que aumentaram a população carcerária do país.

"Em 2002, Biden era o chefe do Comitê de Relações Exteriores", disse Glenn. "Foi o senador democrata mais influente nas questões da guerra. Ele apoiava a invasão do Iraque veementemente. O apoio que ele deu a Bush foi crucial para persuadir outros senadores democratas a votarem a favor da guerra."

De acordo com Glenn, o Partido Democrata está se distanciando dos trabalhadores, e a expressiva votação de Trump entre minorias --latinos e negros-- nesta eleição espelha esse movimento.

O jornalista argumenta ainda que a diferença entre a narrativa propagada pela imprensa americana e a realidade é muito grande. Glenn pediu demissão há pouco do Intercept, site de notícias que ajudou a fundar, dizendo ter sido censurado devido a um texto com críticas a Biden.

Parte do artigo que gerou a saída fazia referência à apuração do tabloide New York Post sobre uma suposta troca de e-mails entre o filho de Biden, Hunter, e executivos ucranianos. O link da reportagem teve a circulação limitada nas redes sociais.

"Twitter e Facebook bloquearam a possibilidade de ler --exatamente como acontece na China e no Irã. Essa mentalidade de censura está sendo muito fortalecida nos EUA, e acho que vai continuar, porque o Partido Democrata acredita muito na justificativa de censura", afirmou.

"Então, para mim, as liberdades mais importantes da democracia --de expressão, de imprensa, de ser dissidente-- estão sendo atacadas com força nos EUA."

Para ele, a mídia lucra exagerando na narrativa de que Trump é uma ameaça aos direitos humanos e que os democratas terão mais facilidade para governar. Por outro lado, afirma que, pessoalmente, está feliz com a derrota de Trump, por acreditar que ela enfraquece a extrema direita no mundo --incluindo Jair Bolsonaro, a quem ele vê como mais esperto que Trump.

"Trump é uma pessoa horrível. É racista, tem muito preconceito. Como presidente, é preguiçoso. Não tem crenças fortes, não tem ideologia nem religião. Não é como Bolsonaro, que tem crenças muito fixas. Ele conhece o sistema político mais do que Trump. Bolsonaro é mais perigoso que Trump, porque o sistema americano é muito mais forte para resistir a pessoas que querem ser autoritárias, ditadoras, racistas."

Por fim, o jornalista afirmou que a democracia americana é uma ilusão. Citou os casos de Edward Snowden --com quem colaborou--, responsável pelo escândalo da NSA (agência de seurança nacional, na sigla em inglês), e Julian Assange, fundador do Wikileaks.

Ambos podem retornar ao país, sob a ameaça de prisão, depois de revelarem documentos secretos, denunciando crimes cometidos pelo governo americano.

"O que determina se um país é democrático? Tem uma questão que é muito importante: a gente tem o direito de ser dissidente? Sim ou não? Você olha para isso, pessoas que são dissidentes de verdade, que estão tentando impedir crimes dos governos, olha o que está acontecendo com eles. Parece que são livres, mas para mim não."

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