SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Rússia anunciou nesta quinta (10) que irá participar de um exercício naval com a presença de navios da Otan (aliança militar ocidental) pela primeira vez em dez anos.
A notícia vem em meio a uma escalada de tensões entre o Kremlin e os 30 integrantes do grupo criado em 1949 para enfrentar a então poderosa União Soviética na Europa.
Na segunda (7), a Rússia havia mobilizado 2 de suas 4 frotas navais para exercícios raros em escala, logo depois de o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, fazer duras críticas ao governo de Vladimir Putin.
A simulação de ações antipirataria se chama Aman (paz, em urdu) e é patrocinada desde 2007 pelo Paquistão. São esperados navios de 10 países em fevereiro, operando a partir da grande base aeronaval de Mehran, perto de Karachi (sul paquistanês), e observadores de outros 20.
A Rússia vai enviar uma fragata, um navio de patrulha, um rebocador e alguns helicópteros. Segundo a agência russa Tass, todos virão da Frota do Mar Negro. Eles vão operar em conjunto com forças da Otan como os EUA, Reino Unido e Turquia, de rivais como o Japão e aliados como a China -embora não esteja claro se Pequim irá mandar navios ou observadores.
A presença chinesa e americana chama também a atenção, dado que ambos os países passaram o ano duelando em todos os campos possíveis da Guerra Fria 2.0 promovida por Donald Trump.
No militar, os EUA aumentaram a pressão sobre a pretensão de Pequim de controlar o mar do Sul da China exatamente com diversos exercícios, além de operar em conjunto com adversários da ditadura comunista, como Japão, Índia e Austrália.
Mas, até pelo caráter benigno e de interesse mútuo de combater pirataria, que é diferente do que treinar ações ofensivas ou defensivas, chineses e americanos já participaram juntos de outras edições do Aman.
Já a última ocasião em que navios russos e ocidentais participaram de exercícios navais foi em 2011, numa simulação comandada pela Otan na costa espanhola.
O fato de as embarcações russas que vão ao Paquistão serem baseadas em Sebastopol, na Crimeia, traz simbolismo político para o gesto de abertura.
Desde 2014, quando Putin anexou a península ucraniana após a derrubada de um governo pró-Moscou em Kiev, o Ocidente está em crescente atrito militar e econômico com a Rússia.
Apesar das sanções aplicadas ao Kremlin, a anexação da área de maioria étnica russa é um fato consumado para a diplomacia mundial.
"É um recado sobre o status quo, de certa forma. Mas também é um gesto positivo, embora não deva ser superestimado", disse por aplicativo de mensagem o analista militar Ivan Barabanov, de Moscou.
Este 2020 foi um ano de aumento nessas tensões, particularmente depois da crise em que submergiu a Belarus, única aliada da Rússia em sua fronteira oeste.
Desde o começo dos protestos contra fraude eleitoral do ditador Aleksandr Lukachenko, tanto o governo bielorusso quanto o Kremlin acusaram vizinhos da Otan de estimular os atos.
Ambos os países fizeram exercícios militares conjuntos e prometeram intensificar a cooperação, levando até a Suécia, que é próxima mas não faz parte da Otan, a elevar seu alerta de defesa a níveis de Guerra Fria.
Além disso, Putin tem reiterado sua assertividade ante a confusa transição de poder nos EUA. Ele já disse considerar Joe Biden mais hostil a Moscou do que Donald Trump, mas o democrata deverá reverter a política de confronto do republicano na área nuclear.
Isso é a senha para o início de uma melhoria no relacionamento entre as duas superpotências atômicas. Trump havia abandonado dois tratados de controle de armas, deixando o remanescente pronto para caducar em fevereiro.
Biden já disse ter interesse em estender o acordo atual, chamado de Novo Start, como Putin deseja. Em outra frente propositiva, o Ocidente confiou a Putin a negociação do fim do conflito entre Armênia e Azerbaijão, que durou seis semanas.
Se até aqui houve até uma quase colisão entre navios de guerra russo e americano no oceano Pacífico, talvez haja um sinal de abertura nas águas do Índico em fevereiro.
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