Saúde

Caminhos do Envelhecer - O século da longevidade: viver mais e viver melhor

Por Luiz Eduardo dos Santos, Gerontólogo e Mestre em Gerontologia

Escrito por Meon

13 OUT 2025 - 11H57

Freepik

Vivenciamos uma das mudanças sociais mais profundas da história: o aumento da longevidade. Pela primeira vez em muitas partes do mundo, o número de pessoas idosas maiores de 60 anos supera o de crianças de zero a 14 anos. Esse fenômeno, conhecido como índice de envelhecimento que caracteriza a transição demográfica, não é apenas um dado estatístico; é um convite a repensar fundamentalmente como organizamos a vida em sociedade: trabalho, saúde, previdência social e relações intergeracionais.

No século XX, o desafio para as nações era garantir a sobrevivência das populações mais jovens. No século XXI, o desafio é diferente: garantir que os anos extras ganhos sejam vividos com bem-estar, dignidade e propósito. A Organização Mundial da Saúde denominou esse período de "o século da longevidade". Mas o que isso significa na prática?

Significa que estamos vivendo muito mais — e que isso exige novas maneiras de viver melhor. A expectativa de vida média global, que há um século não passava de 40 anos, hoje ultrapassa 70. No Brasil, segundo o censo IBGE de 2022, a média se aproxima de 76 anos, e a faixa etária com 60 anos ou mais já representa quase 15% da população. Esse envelhecimento acelerado tem efeitos em todas as esferas: na saúde, na assitência social, na economia, nas políticas públicas e na cultura.

A Segunda Conferência Internacional sobre Envelhecimento, realizada em Madri em 2002, destacou a urgência de construir sociedades para todas as idades, baseadas em três pilares fundamentais:

1. Promoção da saúde e do bem-estar ao longo da vida;

2. Criação de ambientes favoráveis e acessíveis ao envelhecimento;

3. Reconhecimento e valorização da contribuição dos idosos para a sociedade.

Esses princípios reforçam que o envelhecimento não é apenas uma questão de saúde, mas de cidadania, participação social e desenvolvimento humano. Não basta viver mais; é preciso garantir que cada ano vivido tenha qualidade. Isso implica repensar tudo, desde a forma como cuidamos de nós mesmos até as estruturas que sustentam a vida coletiva.

Na área da saúde, o foco precisa mudar do tratamento para a prevenção e o cuidado integral. Um sistema de saúde preparado para a longevidade deve atuar de forma intersetorial e multiprofissional, integrando cuidados básicos, apoio social, reabilitação e monitoramento contínuo. A saúde da pessoa idosa não se reduz à ausência de doenças — envolve autonomia, conexões e senso de pertencimento.

No ambiente de trabalho, o desafio é reinventar trajetórias profissionais. Aposentadorias precoces e a exclusão de trabalhadores mais velhos não fazem mais sentido em um contexto em que, muitas vezes, viveremos por mais de oito décadas. É necessário criar espaços para que pessoas maduras permaneçam ativas — seja abrindo negócios, ensinando, cuidando ou reaprendendo.

E quanto à aposentadoria, talvez seja hora de parar de vê-la como um "fim de linha" e começar a vê-la como uma nova etapa de possibilidades. Um período em que o tempo, antes escasso, pode ser usado para o que realmente importa: relacionamentos, projetos, aprendizado e cuidado com o próximo.

A qualidade de vida na velhice decorre das oportunidades oferecidas — e das atitudes individuais e coletivas em relação ao envelhecimento. Não basta que os governos criem leis; a sociedade precisa reconhecer o valor de cada idoso, as cidades precisam se tornar acessíveis, as famílias precisam acolhê-los e cada um de nós precisa aprender a lidar com o tempo de forma mais generosa e compassiva.

O século da longevidade é, acima de tudo, um século de escolhas. Podemos ver o envelhecimento como um problema — ou como uma conquista civilizacional. Podemos isolar os idosos — ou aprender com eles a arte de viver. Cabe a nós decidir se o futuro que estamos construindo será apenas mais longo ou realmente melhor.

Porque, no fim das contas, o que dá sentido à longevidade não é o número de anos vividos, mas a forma como escolhemos vivê-los — juntos, com respeito, empatia e solidariedade.

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