Resultados promissores divulgados nos últimos meses têm despertado o interesse da comunidade médica e científica: a vacinação contra o herpes zoster — infecção causada pela reativação do vírus varicela-zoster, o mesmo da catapora — pode reduzir significativamente o risco de demência, incluindo a doença de Alzheimer.
Estudos realizados na Austrália, País de Gales e Estados Unidos, além de uma meta-análise internacional, sugerem que imunizantes como o Zostavax e o Shingrix podem diminuir entre 16% e 30% o risco de desenvolvimento dessas doenças neurodegenerativas. Embora as pesquisas sejam observacionais e ainda preliminares, a consistência dos dados chama a atenção de especialistas.
Evidências em diferentes países
Na Austrália, um estudo observacional com mais de 100 mil participantes mostrou que a vacinação com Zostavax foi associada a uma redução de quase 30% no risco de demência. De forma semelhante, no País de Gales, uma análise envolvendo cerca de 280 mil indivíduos vacinados apontou uma diminuição de 20% na incidência da doença.
Já nos Estados Unidos, uma pesquisa comparou a eficácia de diferentes vacinas — incluindo o mais recente Shingrix e outras não especificadas — e constatou uma proteção de até 17% contra quadros de demência. Outro estudo americano, com mais de 20 mil adultos mais velhos, reforçou os achados: vacinados com Zostavax apresentaram 21% menos chance de desenvolver demência.
Em 2024, uma meta-análise internacional publicada na revista Brain and Behavior consolidou dados de mais de 100 mil pacientes de diversas regiões do mundo. O estudo estimou uma redução média de 16% no risco de demência entre os imunizados com as vacinas disponíveis.
Como a vacina pode proteger o cérebro
Embora ainda não seja possível afirmar com certeza que a vacina previne diretamente a demência, cientistas já consideram algumas hipóteses para explicar a possível relação entre a imunização e a proteção cerebral.
Entre as principais teorias está a prevenção da reativação do vírus varicela-zoster, que pode permanecer latente no sistema nervoso por anos, provocando inflamação crônica em regiões neurais quando reativado — um fator associado ao desenvolvimento de doenças neurodegenerativas.
Além disso, vacinas como a Zostavax, que utilizam o vírus vivo atenuado, podem gerar um efeito chamado “imunidade treinada”, potencializando a resposta imunológica a outros agentes nocivos, incluindo processos inflamatórios relacionados à neurodegeneração. A vacinação também reduz o risco de complicações neurológicas, como encefalites e neuralgias, que podem contribuir para o declínio cognitivo.
Cautela e perspectivas
Apesar dos resultados animadores, especialistas recomendam cautela. “Ainda não podemos afirmar que a vacina contra o herpes zoster previne diretamente a demência, mas os dados obtidos impressionam e dão esperança. O padrão observado merece atenção e aprofundamento ao longo dos próximos anos”, avalia o Dr. Marcelo Valadares, neurocirurgião funcional e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia na Unicamp.
Atualmente, a vacina contra o herpes zoster é indicada para pessoas acima dos 50 anos, principalmente como forma de evitar as dores e complicações associadas à infecção. No Brasil, o imunizante já está disponível na rede privada e tem incorporação prevista no Sistema Único de Saúde (SUS).
Se os efeitos neuroprotetores forem confirmados, a vacinação poderá ganhar uma nova dimensão na saúde pública, com potencial para influenciar futuras diretrizes de prevenção de demências.
“Estamos em um momento empolgante da pesquisa sobre doenças neurodegenerativas, com muitas descobertas em andamento. Mas é fundamental lembrar que correlação não é o mesmo que causa. Precisamos de estudos clínicos bem desenhados antes de transformar essas evidências em recomendações”, alerta o Dr. Valadares. “Se confirmada a correlação, podemos estar diante de uma medida de prevenção acessível e eficaz contra uma das doenças mais impactantes da atualidade”, completa.
O que já se sabe sobre prevenção
Por enquanto, a prevenção contra o desenvolvimento de demências segue baseada em escolhas de estilo de vida: manter uma alimentação equilibrada, praticar exercícios físicos, ter sono regular, estimular o cérebro e controlar fatores de risco como hipertensão, diabetes e colesterol.
Quando o quadro de demência se instala, o tratamento busca retardar a progressão dos sintomas, preservar a autonomia e melhorar a qualidade de vida do paciente, com o apoio de medicamentos, terapias neuromodulatórias e acompanhamento multidisciplinar. O suporte às famílias também é essencial para enfrentar os desafios impostos pela doença.
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