O inesquecível ZIRALDO por Felipe Cury

O PENSAMENTO: “Se vocês pensam que o Pasquim é ótimo, saiba que estamos dando o pior de nós mesmo” – O Pasquim

O FATO: Por uns 20 anos eu devorava o Semanário PASQUIM, pelo diálogo entre o cenário da contracultura da década de 1960 e por seu papel de oposição ao regime militar. De uma tiragem inicial de 20 mil exemplares, que a princípio parecia exagerada, atingiu a marca de mais de 200 mil em seu auge, em meados dos anos 1970, se tornando um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro.

Foi se tornando mais politizado à medida que aumentava a repressão da ditadura, principalmente após a promulgação do repressivo ato AI-5. O Pasquim passou então a ser porta-voz da indignação social brasileira.

O PASQUIM era produzido por uma plêiade de jovens literatos modernos e atrevidos, juntando o cartunista Jaguar e os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral. O trio buscava uma opção para substituir o tabloide humorístico A Carapuça, editado pelo recém-falecido escritor Sérgio Porto.

Com o tempo figuras de destaque na imprensa brasileira, como Ziraldo, Millôr, Manoel "Ciribelli" Braga, Miguel Paiva, Prósperi, Claudius e Fortuna, se juntaram ao time. A última edição, de número 1072, foi publicada em 11 de novembro de 1991.

Particularmente eu me encantava com Ziraldo. Ziraldo Alves Pinto foi um cartunista, chargista, pintor, escritor, dramaturgo, cartazista, caricaturista, poeta, cronista, desenhista, apresentador, humorista, advogado e jornalista brasileiro. Além de ser MINEIRO (de Caratinga) e amigo da criançada.

Seus livros não apenas entretinham, mas também educavam, transmitindo valores como amizade, solidariedade, imaginação e autoestima. O grande destaque de sua carreira na literatura infantil é o livro "O Menino Maluquinho", publicado em 1980. Principais obras de Ziraldo • A turma do Pererê (1960) • Flicts (1969) • O planeta lilás (1979) • O menino maluquinho (1980) • Bichinho da maçã (1982) • Os dez amigos (1983) • O joelho juvenal (1983) • A fábula das três cores (1985).

Ziraldo, um fumante que contribuiu para as campanhas antitabágicas desenvolvidas no País que devem muito à colaboração do desenhista e cartunista. Certa vez, fiz parte de uma comitiva da indústria paulista num intercâmbio empresarial entre Brasil e Turquia (sob o comando do grande Amigo Elias Hadad, patrono do SENAI de Jacareí).

Quando chegamos a Istambul, tivemos uma série interminável de reuniões por vários dias. Em alguns intervalos, nós nos permitíamos pequenas excursões pelos locai mais encantadores daquele mundo. Istambul é uma grande cidade da Turquia que se divide entre a Europa e a Ásia, às margens do estreito do Bósforo.

Chegamos à bela Praça Santa Sofia, onde pedi vênia para aguarda-los, sentado nas muretas de um dos palácios, porque minhas pernas já começavam a falhar. De repente, levo um susto de ver quem se aproximava – também cansado: Era nada mais, nada a menos do que ZIRALDO, ao vivo e a cores. Quem não o reconheceria pelas espessas sobrancelhas brancas num rosto se um verdadeiro artista. Sentou-se ao meu lado alegando também cansaço. Dois mineiros felizes. Um de Caratinga e o outro de Soledade.

O papo foi bom, longo, emocionante, bairrista, intelectualizado e rico em recordações. Abati-me triste com a recente notícia: Morreu neste sábado (6/4), aos 91 anos, Ziraldo, criador do Menino Maluquinho (1980), autor do clássico Flicts (1969) e de centenas de outras histórias e personagens que povoam o imaginário infantil há gerações.

COLUNISTA

Felipe Antônio Cury, mineiro de Três Corações, reside há mais de 60 anos em São José dos Campos.

Formado em Ciências Jurídicas e Administrativas, pela Fundação Joseense de Ensino, foi Professor de Língua Portuguesa e Comunicação, na Escola Técnica “Olavo Bilac”.

Foi presidente da ACI - Associação Comercial e Industrial de São José dos Campos, por 8 anos, além de ocupar outros importantes cargos em diversas instituições do município.