Não é simples imaginar um evento cultural que reúna plateias em meio à arquitetura de Brasília. Enquanto o show dos Tribalistas reuniu 15 mil, no sábado, 2, no Estádio Mané Garrincha, o festival Cena Contemporânea 2018 conseguiu a mesma soma com uma programação de 30 espetáculos, nacionais e internacionais, em 70 sessões, entre os dias 21 de agosto e 2 de setembro, sob a direção do curador Alaôr Rosa.
O Cena chegou à 19.ª edição encarando duas frentes: defender seu terreno como o principal evento do gênero no Centro Oeste - é o quinto maior festival de teatro do País - e englobar atividades em locais que estariam à sua margem. Um dos exemplos é o trabalho do Grupo Sutil, que realiza uma extensa pesquisa sobre a obra do dramaturgo santista Plínio Marcos. A pesquisa iniciada em 2011 se baseia nos textos A Mancha Roxa, Barrela, Balada de Um Palhaço, Homens de Papel e Oração para um Pé de Chinelo, montagens organizadas em atos e que versam sobre violência e marginalidade.
Para tanto, a companhia radicada no Distrito Federal esteve em contato com pessoas que vivenciam o sistema penitenciário da região e recicladores do aterro da Cidade Estrutura, também no DF. Com um perfil desses, o projeto poderia estar em mostra em São Paulo, cidade de atuação do dramaturgo.
No âmbito internacional, o grupo mexicano Vaca 35, que fez passagem pela capital paulista em 2016, apresentou seu Lo Único Que Necessita Una Gran Actriz, Es Una Gran Obra Y Las Ganas de Triunfar, inspirado no jogo lúdico e sombrio do texto As Criadas, de Jean Genet. Em uma das salas do Teatro Goldoni, o grupo criou um quarto-lavanderia precário em que vivem as duas irmãs.
Ao dispensar refletores e outros equipamentos de luz, a montagem utiliza apenas duas lâmpadas, presas à parede, para retratar o ambiente em que vivem as jovens. Enquanto inventam os sonhos de viver como sua patroa, elas esfregam roupas encardidas e jantam pão seco. Como se a fábula de Genet escorresse pelo ralo da pia, a dupla indica que o ofício de atriz tem ambições semelhantes às das criadas: o corpo que trabalha não é o mesmo que vestirá o luxo dos vestidos e dos colares.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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