Por Renan Simão Em Brasil & Mundo

Curadora do Jabuti analisa obra adulta de Monteiro Lobato em livro

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Autor taubateano tem bibliografia discutida em 544 páginas

Divulgação

Para além dos limites literários e ficcionais dos livros do Sítio do Picapau Amarelo, o escritor Monteiro Lobato (1882 - 1948) tem um legado de obra adulta que mostra as mudanças (de ideologia e estilo) do autor em paralelo a transformações sociais do Brasil na primeira metade do século 20. 

Essa trajetória literária tenta ser destrinchada em "Monteiro Lobato Livro a Livro - Obra Adulta" (Editora Unesp/2014), uma coleção de 28 artigos de 26 pesquisadores organizada por Marisa Lajolo, professora de teoria literária e atual curadora do Prêmio Jabuti de Literatura. 

A professora, que já havia catalogado análises do Lobato para crianças em "Monteiro Lobato Livro a Livro - Obra Infantil" (Editora Unesp/2008), afirma que a incursão a todos os 25 livros adultos do autor ao longo de 544 páginas é inédita.

"Trata-se da primeira obra que estuda -sistematicamente- livro a livro de Monteiro Lobato. E discute, cada livro, em suas várias versões, isto é, acompanha as alterações que o autor faz de uma edição para outra", diz a autora.

A bibliografia do autor tem como expoente "Urupês" (1918), um best-seller da época e título em que, pela primeira vez em livro, o personagem Jeca Tatu é mencionado. Neste caso, a crítica ao atraso do homem do campo frente ao progresso das grandes cidades, vista em "Urupês", muda de lado com o passar do tempo -em "Zé Brasil" (1947) o Jeca é retratado como prejudicado pelos latifúndios.

O homem que criou Emília e companhia explorou suas diversas facetas. Criticou o eurocentrismo na arte brasileira no famoso artigo "Paranoia ou Mistificação" (1917) -que interferiu de alguma maneira na eclosão do modernismo de 1922-, defendeu o petróleo como bem nacional ("O Escândalo do Petróleo", de 1936), e, em "Zé Brasil" (1947), próximo da morte, mostrou-se a favor da reforma agrária, tendo o livro apreendido em investidas do governo Eurico Gaspar Dutra.

"Em minha opinião, vejo positivamente tanto a verve polêmica de Lobato, quanto seu interesse por temas contemporâneos dele, que muitas vezes também nossos", fala Marisa.

Maturidade
Em questão de estilo, a teórica acredita que Lobato tornou-se cada vez mais simples. "Entre o Lobato jovem e o Lobato maduro há uma extraordinária simplificação no trato da linguagem. Não me refiro apenas a questões de vocabulário. Penso na estruturação dos textos e, sobretudo, ao cuidado em sinalizar caminhos de leitura para seus leitores", afirma.

Entre seus favoritos, a autora aponta um exemplar do Lobato velho, "Zé Brasil", e o descreve como "obra exemplar do diálogo de um autor consigo mesmo, na maturidade, relendo seus textos de juventude".

"MONTEIRO LOBATO LIVRO A LIVRO - OBRA ADULTA"
Editora: Editora Unesp
Número de páginas: 544
Preço: R$ 69

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