Por Meon Em Brasil & Mundo

Revoluções Musicais do Século 20 - O jazz como primeiro símbolo da liberdade

O jazz nasceu nos EUA como uma evolução espontânea do blues clássico, tendo New Orleans como sua pátria espontânea – já que a influência francesa de Luisiana fora rapidamente incorporada pelos negros americanos, que começaram a tocar os instrumentos de metais europeus com rara habilidade. Assim, muitas bandas de blues do subúrbio passaram a atacar uma música instrumental mais “bruta”, já se afastando da sonoridade das marchas de estilo europeu.

Enquanto colônia francesa e católica, New Orleans pôde admitir o paganismo e a convivência da música africana – como as escalas não clássicas, os ritmos fragmentados e a improvisação. Além da música africana e das marchas militares europeias, o jazz acabaria incorporando a música secular folk dos imigrantes (pobres) irlandeses e escoceses que aportavam no sul dos EUA – tornando-se, por volta de 1920, a linguagem musical americana.

Depois de finalmente se misturar com ritmos latinos, vindos principalmente de Cuba, o jazz foi tido, por muitos intelectuais da época, como uma força revolucionária a caminho de uma sociedade livre – tornando-se um termo universal para tudo que fosse moderno e vibrante. Nos anos 1930, contudo, durante a depressão econômica dos EUA, o esplendor revolucionário do jazz também entraria em crise. As vendas de discos cairiam vertiginosamente e o jazz passou a ser sustentado por clubes de gangsters, administrados pela máfia – que contratavam os músicos por preços baixos, mas sempre garantiam trabalho.

O Jazz como produto de mercado
Além de sua força artística transformadora, o jazz foi o primeiro gênero musical da história a ser apadrinhado por empresários e agentes especializados, estabelecendo-se como arte e negócio. No início, os jazzistas tinham os bailes, as marchas, festas cívicas, clubes e cabarés. Com o estouro da indústria cultural, vieram os espetáculos, as agências de produção artística, o toca-discos, o cinema, o rádio e a televisão.

A música era então produzida em escala industrial e muitos músicos abandonaram seus instrumentos para produzir hits de música pop comercial. As engrenagens começavam a girar: os produtores descobriam um sucesso e o levavam para o estúdio. Depois ofereciam suas obras aos diretores artísticos, que as canalizavam para o mercado específico. Por fim, entravam os publicitários e divulgadores. As músicas deveriam ser fáceis para que fossem cantadas pelo maior público possível – incluindo refrões que “grudassem” no ouvido do público.

Fabricar um produto cultural era uma proeza considerável e, sem o jazz, seria difícil a indústria cultural se apoderar, no período pós-guerra, do mercado de jovens ricos, ociosos e sedentos por cultura.

O JAZZ COMO PROTESTO
É importante ressaltarmos que, no início de sua história, o jazz era visto como uma música perturbadora, abominada por muitos. Por ser um ritmo provocador, improvisado e quase sem métrica, muitos o entendiam como reflexo da decadência burguesa nos EUA. De fato, o jazz despertava muita polêmica e foi logo adotado como um levante político e comportamental, tornando-se uma música essencialmente de protesto.

Por socializar a população em torno de sua música, o jazz acabou demolindo as barreiras sociais da época. Sua força não vinha apenas de seu aspecto musical, mas, sobretudo, de seu apelo comportamental, tendo em vista o fato de ser intenso e desafiador. Por ter nascido nas classes mais baixas, o jazz criou um sentido de arte democrática. De certo modo, foi uma expressão dos oprimidos e um verdadeiro emblema da cultura popular.

Até que fosse aceito e idealizado pelos intelectuais, o jazz, na verdade, não tinha noção de seu aspecto revolucionário. O jazzista apenas expressava sua vida de opressão, seu cotidiano miserável e confuso. Foi muito simples, portanto, para intelectuais e progressistas usarem o jazz para levantar a bandeira da subversão, da política revolucionária e radical, do manifesto contra as intransigências de uma sociedade conservadora e burguesa.

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