Por Renan Simão Em Brasil & Mundo

Rapper lança livro sobre favela de Santa Cruz em São José dos Campos

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Capa de “Santa Cruz - Uma Favela na Capital da Tecnologia”, de JB Magalhães

Reprodução

O rapper JB Magalhães tinha 13 anos quando escreveu as primeiras rimas. Aos 24, começou registrar os versos quando ensaiava apresentações em bailes com grupos da comunidade e, uma década depois, aos 34, o compositor compilou em livro suas impressões sobre o dia-a-dia da favela de Santa Cruz, região central de São José dos Campos, o seu bairro. 

JB divulga agora em setembro o livro de contos “Santa Cruz - Uma Favela na Capital da Tecnologia” (Scortecci, 112 págs., R$ 20), um registro de 18 histórias que o músico viveu desde os anos 2000. Todo o custo com a publicação saiu do próprio bolso.

Apesar de nomear suas histórias como contos, todos os relatos são "completamente da vida real, não tem nada de ficção". "O livro fala muito da falta de estrutura da favela, da falta de projetos que vão para outros lugares, mas não chegam aqui", diz o músico do grupo AMC Rappers que se diz influenciado por nomes do hip hop como DMN, Racionais MCs e MV Bill, esse último que escreveu o livro "Falcão - Meninos do Tráfico" sobre a criminalidade nas favelas cariocas.

Usando recursos de observação e entrevistas com moradores da comunidade, as crônicas de JB criticam uma prefeitura "que não chega aqui" e iniciativas da FCCR (Fundação Cultural Cassiano Ricardo) como as Casas de Cultura que não prestam serviços na favela.

Falando quase como um historiador, o também educador social do Abrigo Municipal masculino de São José -que cuida de pessoas em situação de rua- conta que a ideia principal do livro é "manter a história da favela viva".

"A comunidade foi deflagrada por um processo de desfavelização em que quase tudo acabou. Como as histórias são as mesmas das minhas letras, criei o livro para manter esse registro".

Quanto à desfavelização, o escritor se refere ao processo de desocupação parcial da favela Santa Cruz, realizada em julho do ano 2000. Foram construídos prédios com sistema de condomínio e rateio de contas não aprovados pelos moradores, que, por sua vez, não se mudaram para os então novos apartamentos. Abandonada, a construção foi tomada por sem-tetos e virou ponto de tráfico de drogas.

Frente às últimas manifestações na favela, feitas em agosto, por causa da prisão de um policial envolvido em uma chacina que matou quatro jovens da comunidade, JB revela a realidade de quem cresceu no gueto.

"Então, aquela coisa da chacina magoou muito a comunidade, o pessoal não tava muito acostumado com isso porque não tem tanto mais assassinato". Na sua época tinha mais?, pergunto. "Vixe, tinha muito mais, cara".

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