Por Meon Em Brasil & Mundo

Revoluções Musicais do Século XX: New Wave, New Romantic e a Música Gótica

Como observamos na coluna passada, o pós-punk, subgênero mais direto do punk, surgiria no final dos anos 1970, logo após o auge do movimento na Inglaterra, liderado pelos Sex Pistols. O pós-punk absorveria a filosofia do “do it your self” (“faça você mesmo”), assim como o caráter aguerrido dos punks. Bandas como Public Image Limited (liderada por John Lydon), Gang of Four, Cars, Television, Iggy Pop, The Fall, Dead Kennedys, etc., assumiam, do mesmo modo, uma postura de ruptura e ódio aos rumos comerciais ostentados pela indústria cultural.

Musicalmente, no entanto, o pós-punk negaria a simplicidade instrumental de seus antecessores, revelando-se um estilo tecnicamente mais ousado, com baixo/bateria em primeiro plano, a guitarra fazendo contrapontos com a voz (no lugar do uso de riffs) e letras mais obscuras e existencialistas. O pós-punk, juntamente ao punk-rock, também daria origem a outros gêneros musicais surgidos já nos anos 1980, como o new wave, o no wave, o new romantic e o rock gótico.

New Wave
A energia do movimento pós-punk acabou rejuvenescendo, espantosamente, o universo da música pop, e a primeira extensão disso foi o estilo new wave, surgido no amanhecer dos anos 1980. O new wave tornou-se um gênero inovador, miscigenado, progressista, difícil de ser rotulado, uma vez que trazia uma enorme gama de referências musicais – grosso modo, uma síntese entre punk-rock e música pop.

Assim como aconteceu com o pós-punk, a new wave dispensou os vocais monocórdicos, a agressividade deliberada, mas absorveu muito bem a excentricidade e as performances dos punks no palco. A primeira onda de bandas new wave britânicas incluía Elvis Costello, The Police, The Jam, Billy Idol, Pretenders, etc. Dos EUA vieram Talking Heads, Devo, Blondie, B-52s, etc.

Assim, esta “colorida” e “tolerável” forma de punk-rock foi sendo rapidamente absorvida pelo mercado pop, trazendo grande vitalidade à indústria musical dos anos 1980 – assim como fizeram o rock clássico, o rock inglês e o punk-rock, nas décadas anteriores. O potencial estético da música new wave não foi desperdiçada pela indústria e muito menos por seu público. Pelo contrário. Os subgêneros do movimento punk trouxeram força e visibilidade às questões adolescentes, expressando seus dramas, angústias e esperanças.

New Romantic
O new romantic, estilo mais pop e melancólico, também invadiria o mercado no início dos anos 1980. O gênero trazia forte apelo dentro da moda, assim como o glam rock – estilo das chamadas “glitter bands” dos anos 70, como New York Dolls, Kiss e David Bowie, caracterizados por performances cênicas, uso de maquiagens, fantasias futuristas, elementos de androginia e bissexualidade. A grande diferença com o glam rock é que, no lugar das guitarras, os new romantics adotariam, como base musical, o uso de sintetizadores e baterias eletrônicas. Grandes precursores do movimento seriam Brian Eno e Roxy Music, Duran Duran, Tears for Fears, Depeche Mode, Eurythmics, Simple Minds.

A música gótica
Também surgido em meio ao movimento pós-punk, o rock gótico do Joy Division e seu vocalista Ian Curtis foram reverenciados pelo lirismo “carregado” e pela sonoridade aflitiva de suas canções que, em 1978, começariam a traçar outra revolução estética, deixando um legado inviolável para a música pop. O novo nome viria de um livro sobre os campos de concentração nazistas. As "divisões da alegria" (Joy Divisions) eram os espaços reservado às prostitutas, mantidas vivas para diversão dos militares.

O Joy Division surgiu com o EP “An Ideal For Living”, sem muito sucesso. Um show no Rafters Club, no entanto, chamaria a atenção do apresentador de TV e empresário Tony Wilson, dono do selo independente Factory, que lançaria a coletânea “A Factory Sample”, com duas músicas do Joy Division.

Martin Hannet, produtor musical de veia experimental, é escalado pela Factory e passa a trabalhar a banda de maneira inovadora. Primeiro colocando a bateria à frente dos instrumentos, o baixo de forma sutil e melódica e, por trás de tudo, a voz de Curtis, espalhando sua melodia densa e sombria pelas canções. As guitarras de Bernard pouco apareciam. O que impressionava as pessoas, na verdade, era a obscuridade daquilo e a languidez das letras de Curtis. O semanário inglês Sounds chegou a publicar uma espécie de alerta: "Quem estiver com depressão e ouvir este disco, vai se atirar de uma janela".

Ao vivo, Ian Curtis dançava freneticamente e simulava ataques epiléticos – doença que realmente tinha. Em 1980, a banda gravaria Closer, considerado uma das obras-primas do rock. Mas antes da banda embarcar para sua primeira turnê americana, Ian Curtis foi encontrado morto, enforcado em sua própria casa, depois de romper com sua esposa. Com o suicídio de Curtis, o Joy Division recrutou a tecladista Gilliam Gilbert e montou o New Order, também inovando o cenário pop com uma música eletrônica densa, mas dançante, “pra cima”.

O Joy Division seria, sem dúvida, o grande pioneiro do rock gótico, estilo minimalista influenciado pelo punk e pelo experimentalismo de bandas como Velvet Underground e Lou Reed, que traziam uma música introspectiva, dominada pelo niilismo e pelo pessimismo social.

Assim, bandas como Bauhaus, Sisters of Mercy, Siouxie and the Banshees e, mais tarde, o The Cure (que explodiria o estilo), trazendo inúmeros recursos eletrônicos, o contrabaixo mais fraco, a bateria repetitiva, vocais falados, profundos, dramáticos. Os góticos vestiam roupas pretas, se enchiam de maquiagem e olheiras. Socialmente, foram associados a vários casos de suicídio no final dos anos 1980. Diversos jornais atacavam o gênero chamando-o de “música do misticismo e do desespero”.

O retorno às guitarras com The Smiths
A banda britânica The Smiths deixaria de lado a new wave e os sintetizadores para aderir novamente às guitarras e ao rock mais genuíno. As influências da banda poderiam ser encontradas no rock dos anos 1950 e 1960 e no punk dos anos 1970.

A base da banda era formada pelo vocalista Morrissey e pelo guitarrista Johnny Marr. Marr representava o lado rebelde e rock’n’roll, enquanto Morrissey simbolizava a sonoridade pop. A banda se tornaria conhecida pela imprensa muito em função das referências homossexuais nas letras de Morrissey, constantemente mal interpretadas por um público que as considerava um incentivo ao crime e ao abuso sexual de crianças.

The Smiths ficou marcada pelo romantismo nas letras, pelo lirismo harmônico e o perfeito diálogo entre a voz e os arranjos de Marr. O terceiro álbum da banda (The Queen Is Dead, de 1986) ganharia um tom mais agressivo, com críticas políticas ao neoliberalismo de Margareth Thatcher. Em 1987, as tensões entre Marr e Morrissey decretariam o fim dos Smiths. Marr formaria a banda Electronic, além de tocar com The The e Pretenders. Mike Joyce – baterista do Smiths – entraria para o Buzzcocks, enquanto Morrissey seguiria uma bem-sucedida carreira solo.

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