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Decolonialidade e as raízes ibéricas brasileiras

Confira mais um texto participante do Meon Jovem

colégio poliedro

Escrito por Elizabeth Malburg Freire Meira

29 JUN 2023 - 18H43

Divulgação

Decolonialidade e análises decoloniais vêm sendo cada vez mais discutidas na atualidade. Entretanto, muitas pessoas ainda desconhecem esse termo e prática e o que ele significa e se propõe a ser na sociedade em que vivemos. Com esse objetivo, resolvi escrever esse artigo na tentativa de trazer luz a esse assunto tão importante, juntamente com o pouco da História de nosso país e como ela reflete na necessidade do termo.

A decolonialidade é uma práxis social e corrente das Ciências Humanas que se preocupa em recontar os eventos históricos e sociais a partir dos povos às margens, não ao centro, combatendo perspectivas etnocêntricas a fim de garantir aos povos subalternizados sua emancipação. A prática hoje se propõe a ser um método de análise das diversas relações humanas que temos hoje.

Antes de tudo, o que é a colonialidade que a decolonialidade se opõe? A colonialidade sugere que, mesmo após o fim oficializado do colonialismo, as relações coloniais e capitalistas de trabalho, direitos básicos, hierarquia, saberes, mente e dominação ainda prevalecem. Afinal, a colonização da América e logo depois imperialismo na África são apenas consequências das demandas de um sistema baseado primeiramente no acúmulo de capital, no capitalismo mercantil - mercantilismo - e posteriormente lucro desenfreado: o sistema econômico capitalista.

O sistema capitalista surge com o Renascimento Cultural, que marcou a transição do feudalismo para o capitalismo, em que a burguesia comercial ascende economicamente na Europa, especialmente em suas principais potências da época: Espanha e Portugal na Península Ibérica. A filósofa mineira Lélia Gonzalez, em seu livro "Por um feminismo

afro-latino-americano", traz que as duas nações se formaram a partir da Guerra de Reconquista, em que batalharam para expulsar povos árabes e muçulmanos de seu território. Logo, esses povos deixaram inovações e marcas importantes nessas regiões em como organizar as relações raciais. Sendo Portugal e Espanha países com grande presença da estratificação social, o Brasil e os outros países latinos colonizados herdaram essas ideologias e as aplicaram em seus respectivos contextos.

Reprodução/Google Imagens
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Tendo isso em vista, abordar a História Ibérica de forma decolonial, seria, por exemplo, considerar o racismo que teve início juntamente do processo de colonização, a fim de justificar as atrocidades cometidas por europeus, tanto burgueses como nobres, em busca do acúmulo de capital. Ao instalar o novo sistema econômico, era necessário uma engrenagem que proporcionasse um modelo de trabalho que não gerasse despesas e que fosse eficiente. Abordando a questão dos povos negros escravizados somente, a partir do quadro "A Redenção de Cam" (1895), do espanhol Modesto Brocos, esse processo é explicitado: Cam, filho de Noé na mitologia cristã, foi amaldiçoado pelo pai a ser "o servo dos servos", e é em alguns trechos descrito como negro, sendo assim, a tela traz uma analogia. Sob o marco do cristianismo, líderes europeus buscavam formas de defender a colonização brasileira, reinterpretando as populações negras africanas como os descendentes de Cam, que seriam apenas salvos a partir dos processos de miscigenação e branqueamento.

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Dessa forma, a decolonialidade se apresenta como um outro caminho para se pensar todas essas questões mencionadas, trazendo junto consigo o protagonismo e perspectivas não brancas europeias sobre o assunto, como a de povos negros e indigenas escravizados. Por esse motivo, análises decoloniais podem ser aplicadas nos mais diversos meios da sociedade, fazendo necessária em vários deles. Nos dias atuais, vêm sendo principalmente utilizadas nas pesquisas acadêmicas e escolares, por trazer pontos de vista justamente que vão contra a historiografia oficial, visando uma educação mais inclusiva e diversa.

É essencial que nos ambientes de aprendizagem os métodos de ensino sejam reconsiderados sob essa ótica. Se queremos pautar um futuro abrangente para o Brasil, esse passo é imprescindível.

Espero que com esse texto tenha conseguido atingir vocês, leitores, de alguma forma e que agregado algo.

Com supervisão de Isabela Sardinha, jornalista do Meon Jovem.




Escrito por:
colégio poliedro
Elizabeth Malburg Freire Meira

3º ano do Ensino Médio - Colégio Poliedro - São José dos Campos, SP

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