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Economia do Cuidado: a revolução das máquinas

A Economia do Cuidado, o despertar da transformação das relações humanas que tem ganhado grande significado na pandemia

Ingrid Latanzi (Arquivo Pessoal )

Escrito por Ingrid Vitória Latanzi Silva

05 JUL 2021 - 10H28

Foto: Reprodução/Pexels

As geladeiras estão vazias, há roupas jogadas para todos os lados, os banheiros estão nojentos, poeira está impregnada em todos os lugares, bebês com fomes chorando desesperados, idosos deixados à deriva, sem perspectiva. Saindo para a rua nos deparamos com as escolas praticamente vazias, as crianças andando pelas ruas sozinhas brincando desgovernadas, será que foram para a aula?

No entanto, mesmo com alguns setores estagnados, as empresas seguem funcionando, o banco, o governo, as máquinas, e ainda assim a sensação é de que a vida simplesmente parou. O que é isso? Você deve estar se perguntando, The Walking Dead ao vivo se apoderando de nossos olhos?

Não, te asseguro que isso está bem longe de um apocalipse zumbi, mas esse cenário catastrófico poderia acontecer se um dia as mulheres acordassem e espontaneamente resolvessem desistir de fazer o que fazem todos os dias: Cuidar.

Com o passar dos anos, as máquinas foram substituindo pouco a pouco a força produtiva de trabalho. No entanto, há algo em nossa vida que é insubstituível, inigualável e mesmo com toda tecnologia do mundo, um algoritmo nunca conseguirá exercer, que é a função de zelar e de se preocupar com o próximo. Afinal, o cuidado traz para o ser humano a essência do que ele é e isso a máquina não pode roubar.

Por isso, que a pauta de hoje é verdadeiramente a revolução das máquinas, é o momento em que as mulheres questionarão e entenderão que aquilo que elas fazem não é automático, não é natural e sim, parte da maior economia do mundo, a que vamos falar nessa matéria: A Economia do Cuidado.

Antes de tudo, é muito importante destrincharmos os termos para que dessa forma, possamos compreender a essência dessa economia. Assim, dos quatro tópicos que iremos abordar, vamos começar com o cuidado.

Estão preparados? Vamos lá!

1. O que é Cuidar?

Cuidar é uma palavra derivada do latim cogitare “pensar, cogitar”. Que significa proteger, defender e trazer o cuidado em forma de ação.

Na atualidade, esse verbo se tornou notável por todos em nossa sociedade, pois em decorrência da pandemia, pessoas e serviços que se dedicam em cuidar. Ou seja, zelar pela saúde própria e da pessoa amada se fez essencial para a preservação de várias vidas.

Para algumas pessoas, esse período de reclusão trouxe a experiência de lidar com cuidado de crianças e idosos, além da cautela na compra de alimentos, dedicação em prevenir doenças com uma alimentação saudável, prestar conta da educação dos filhos, atividades domésticas intensas, dentre outros afazeres, sete dias por semana sem pausa. Algo que geralmente já é praticado majoritariamente por mulheres e que muitas vezes denominamos: mães.

Foto: Reprodução/Pexels
Foto: Reprodução/Pexels

Historicamente, as mulheres sempre desempenharam as funções de cuidado na família. A mais de um século elas adentraram no mercado de trabalho e seguiram reproduzindo o papel de zelo que elas executam dentro de casa. Dessa forma, elas desenvolveram profissões que são predominantemente femininas como enfermeiras, professoras, babás, cuidadoras de idosos, assistentes sociais e outras.

De acordo com Sant’Anna, (2021) as mulheres estão ligadas cada vez mais ao setor terciário da economia - comércio e serviço - que tradicionalmente tem um valor menor de remuneração e por conta do números de horas dedicadas em casa, em regra cuidando das pessoas da família, forma-se um ciclo vicioso que inicia e termina no mesmo lugar, que é na função de cuidado da mulher.

Para Federici (2019), a partir do momento que o “feminino’’ se tornou sinônimo de “dona de casa’’, as mulheres carregam a identidade da “dona de casa’’ e as “habilidades domésticas’’. Assim, esse fenômeno impacta diretamente no mercado de trabalho, onde as funções predominadas por mulheres são uma extensão do trabalho doméstico.

Em decorrência desse excesso de carga laboral desempenhadas por elas, principalmente durante a pandemia, traz instantaneamente a terminologia pouco conhecida e extremamente relevante que tem sido pauta das organizações e lideranças femininas de todo o mundo que é a Economia do Cuidado.

Dessa forma, já que agora já sabemos sobre o verbo cuidar, vamos para o segundo termo que é a economia.

2. O que é Economia?

No primeiro momento, é muito importante entender o conceito de economia, afinal, nos dias atuais, temos acesso a diversos conceitos vinculados a esse termo como a economia tradicional, criativa, colaborativa, sustentável dentre muitas outras que existem pelo mundo.

Com a existência de tantas economias, pegamos nos questionando essa nomenclatura. O que é afinal economia?

A etimologia da palavra Economia vem do grego “Oikos”, que significa Casa e “Nomos”, que significa Ordem. Juntando esses dois conceitos, surge a palavra OIKONOMIA a que depois originou Economia.

Sendo assim, de modo simples, a economia tem por finalidade observar o comportamento das pessoas em virtude das suas necessidades em relação aos recursos disponíveis para satisfazê-las.

Em geral esse termo foi generalizado a troca de recursos monetários para moderação da vida humana, no entanto, atualmente, essa definição vem ganhando um novo olhar, uma ótica mais colaborativa e humanizada. Hoje exclusivamente falaremos da Economia do Cuidado.

Por isso, nesse momento, já que desmembramos os dois conceitos principais, vamos enfim juntá-los para descobrir o que significa esse termo tão importante.

3. O que é Economia do Cuidado?

O cuidado é essencial para existência humana. Se hoje você é uma pessoa adulta, é porque necessariamente alguém na sua infância desempenhou horas de cuidado com vacinação, alimentação, educação e diversas outras funções imprescindíveis para o desenvolvimento de um indivíduo.

Então quando nos referimos a economia do cuidado, não é algo relacionado ao trabalho desempenhado por cuidadores, mas sim, o trabalho relacionado à dedicação da sobrevivência, bem-estar, educação de pessoas, além da manutenção do meio em que estão inseridas.

Hoje essas atividades são quase exclusivamente exercidas por mulheres, ou seja, mães, chefes de família, empregadas domésticas, babás, cuidadoras, professoras e enfermeiras, que juntando tudo equivalem a 11% do PIB, maior do que qualquer indústria, é mais do que o dobro que todo o setor agropecuário produz, de acordo com o laboratório,Think Olga.

Essa organização que trabalha com questões de gênero e soluções para vida das mulheres, reuniu em uma mesma página, dados tirados de fontes como: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Instituito Brasileiro de Geografia e Estatística, e Organização Mundial da Saúde (IPEA, IBGE e OMS) em seu projeto Laboratório Think Olga de exercícios de futuro, desenvolvido durante a pandemia, que explicou a respeito da importância tema em forma de textos e gráficos.

Nesse sentido, o serviços considerados como Economia do Cuidado são por exemplo: Preparar ou servir alimentos, cuidar da limpeza, cuidar da organização de domicílio (pagar contas, orientar empregados etc), fazer compras de mantimentos, cuidar de pets, enfim, trabalhos vinculados à segurança e higiene que são em sua maioria invisibilizados no nosso dia a dia.

Foto: Reprodução/Pexels
Foto: Reprodução/Pexels

Dessa forma, podemos concluir que a sociedade em geral, até a própria economia tradicional (agronegócio, empresas, comércio etc), não existiriam se não fosse subsidiado pela Economia do Cuidado, pois ela é a base de tudo. No entanto, mesmo sendo tão essencial para a vida de todos, ela não é reconhecida como deveria e esse trabalho quando terceirizado por ser estruturalmente banalizado é mal pago.

Pensando nesse viés, trazendo à tona o questionamento que muitas vezes as próprias mulheres não valorizam essas atividades tão substanciais. Trocar uma lâmpada, um chuveiro por exemplo, muitas vezes possui mais valor do que lavar um banheiro. No entanto, quando a mesma não executa essas tarefas ela já é sujeita a estereótipos pela sociedade.

Assim em entrevista a temática, Renata Dias jornalista coordenadora de comunicação e marketing do grupo Vitae Brasil, retratou sua opinião sobre esse assunto:

Culturalmente e historicamente uma mulher só é amada e respeitada se é uma boa mãe, filha ou esposa, se executa os serviços domésticos com regularidade. Pensando nesse sentido “Eu sou menos mulher se não penso na minha casa (cozinho, lavo e organizo)?”

“De forma alguma. Não existe troféu de primeiro lugar de mulher perfeita, de boa mãe, filha, esposa e dona de casa. Não existe prêmio por conseguir seguir a rotina perfeitamente, todos os dias, a semana toda, sem falhar. Quando as coisas saem diferente do esperado ou se eu não sou boa nos itens mencionados na pergunta acima, não quer dizer que eu tenha falhado como mulher ou me torna menos mulher. Significa apenas que as coisas podem sair diferente do esperado. Diferente das tabelas. Diferente do que significa ser boa para você e/ou para o outro. Significa ser mulher independente do que você faz e é!”

Para Ana Carolina Marini Figueira dos Santos Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade do Vale do Paraíba, além de vinte anos de experiência na docência em nível superior e área técnica dentre outras qualificações, trabalhar, ser mãe e cuidar de casa não é uma tarefa fácil. A professora ainda afirma:

“Penso que sou ainda mais mulher, pois tenho que saber dividir essas tarefas no dia-a-dia.E também dou muito valor às mulheres que realizam apenas as tarefas de casa, pois sei o quanto é difícil todas as tarefas e como essas tarefas não acabam.”

Sendo assim, ignorar a existência dessa força laboral só contribui para a estrutura desigual em nossa sociedade, já que é um dos principais recursos na atualidade. O que faz pensar, inevitavelmente, na importância da notoriedade e valorização dessa economia, visto que também, sem ela nada que conhecemos seria possível.

Todas essas irmãs, tias, avós, mães cuidadoras, desempenham um trabalho excepcional e brilhante. De acordo, com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE (2015), as mulheres, por exemplo, gastam em média mais de 61 horas por semana em trabalhos não remunerados no Brasil.

Em vista disso, surge inevitavelmente a seguinte questão: O que é considerado um trabalho não remunerado, ou melhor, trabalho reprodutivo?

Para descobrir é muito simples, não me abandone e vamos juntos desbravar esse último tópico.

4. Trabalho Produtivo x Trabalho Reprodutivo

Trabalho Produtivo: Trabalho valorizado socialmente, a jornada laboral é remunerada, assim, são os serviços reconhecidos pela economia tradicional.

Trabalho Reprodutivo: Trabalho desvalorizado socialmente, não é remunerado, geralmente realizado em ambientes domésticos, ou seja, todas as atividades que consistem na manutenção da vida, cuidado da criança, com os idosos, lar entre outros.

Pensando por esse aspecto, a filósofa Silvia Federici (2019) aponta que o trabalho reprodutivo e doméstico da dona de casa é o motor que mantém o mundo em constante movimento. Dessa forma, a pensadora faz uma análise acerca da diferenciação de produção e reprodução, visto que, com o passar dos anos a tecnologia contribuiu para que no setor produtivo a mão de obra fosse substituída por mecanização, esse avanço acabou gerando rapidez e eficiência no trabalho operário.

Isso não aconteceu no setor reprodutivo, já que, mesmo com a inserção das mulheres no mercado de trabalho, não houve uma redução desse serviço, só adiou essas atividades relacionadas às atividades de manutenção da vida. Afinal, esse trabalho requer interação humana e isso não pode ser robotizado e sim valorizado constantemente.

Nesse sentido, Renata expôs sua experiência como mãe, gestora, dona de casa e seu incrível trabalho de conciliar as tarefas do trabalho produtivo e reprodutivo. 

"O que é para você cuidar da casa? Como você faz para conciliar as tarefas como mãe, gestora e dona de casa? Há alguma divisão de atividades nesse aspecto? Você terceiriza alguma dessas funções?"

“Você quer dizer, como ser mãe, mulher, dona de casa e profissional sem perder a pose? Isso mesmo, porque a cobrança e inversão de valores é tão grande que não nos permitimos perder a pose. E posso dizer que faço isso com maestria. Ahh, mas como um maestro que está começando a carreira, porque estou sempre desafinando, deixando os instrumentos caírem e a música sair do tom. De fato, nada sai perfeitamente para o outro, mas para mim, para o meu dia a dia e para quem eu preciso que seja, está ótimo! Está perfeito. E quando não está, tudo bem! Há seis meses eu recebi na minha rotina o ser mais precioso desse mundo, o ser que mudou a minha vida e com isso eu tive que alinhar e reorganizar a minha vida".

"Tenho que manter e cuidar de todos os ativos tangíveis da minha casa, satisfazer as necessidades de nutrição diária da minha família, administrar o orçamento, pagar contas, economizar, investir e fazer doações de caridade. Além de planejar e coordenar ocasiões especiais. Tudo isso em meio a uma pandemia. Sem contar na minha carreira que me dedico, pelo menos 12 horas por dia e ainda preciso estudar".

"Conto com o meu parceiro, marido e amigo para tudo isso, mas não conheço, até o momento, sentimento mais doloroso do que sair para trabalhar e deixar o meu bebê, tão pequeno, na escola. É parte de mim que fica e eu tenho que agir como se nada houvesse. Como se eu estivesse pronta para ficar longe 12 horas da coisa mais importante que eu tenho na vida. E nada é terceirizado, tudo é executado e com muitas falhas, por mim!".

Foto: Reprodução/Pexels
Foto: Reprodução/Pexels

Já Ana Carolina Marini sobre esse questionamento aborda uma perspectiva um pouco diferente apesar de partilhar das mesmas dores e fala como cuida da organização do seu lar com êxito.

“Para mim, cuidar da casa é um trabalho diário, sendo esse realizado para que se tenha um espaço higienizado e de harmonia. Mas para conciliar esse cuidado com todas as minhas tarefas é bem difícil. Muitas vezes dou prioridade para as atividades da minha profissão, dificultando assim os cuidados da casa, que acabam sendo deixados de lado em alguns momentos".

"No meu caso, devido às atividades conforme a prioridade dessas tarefas. Como eu disse, tenho as prioridades do trabalho no dia-a-dia e tento conciliar com as minhas atividades de casa. Também divido com todos que moram comigo, no meu caso, marido e filha. Todos ajudando um pouco a carga de tarefas acaba diminuindo".

"Infelizmente, acabo aproveitando momentos que deveriam ser de descanso para realizar as tarefas de casa".

Além disso, as mulheres por desempenharem as atividades ligadas ao cuidado tem por consequência passado por grandes dificuldades de acordo com a juíza do trabalho Patrícia Sant’Anna em entrevista para o podcast “E tem mais” da CNN Brasil:

"Nós estamos em uma crise econômica, em um momento de pandemia, temos mulheres que perderam seus empregos pelo simples fato de na maior parte das vezes a mulher ter a incumbência de cuidado na família [...] Ela deixa o emprego em razão do isolamento social e da necessidade de cuidar das pessoas durante a pandemia”.

Sendo assim, todas as mulheres que conseguem executar todas essas tarefas como Rê disse, com maestria, é muito além que uma super-heroína, talvez ainda não tenha sido criado um adjetivo para denominar o poderio dessas guerreiras.

Além disso, percebemos que ainda há uma resistência de reconhecer o trabalho reprodutivo como algo essencial, visto que, sua desvalorização é gritante quando analisamos esse viés no âmbito social, a prova disso foi a obtenção dos direitos domésticos apenas no ano de 2015, o que evidentemente demonstra o receio da própria sociedade de valorizar o serviço do cuidado. E sobre isso as entrevistadas também expressaram seu ponto de vista.

Momento Reflexão:

Por que na sua opinião o cuidado/cuidar não é valorizado pela sociedade?

"Primeiro porque a sociedade não entende que cuidar é uma atitude. Vai muito além do momento de atenção, de zelo, acalento. Na verdade e na prática, é uma atitude de envolvimento afetivo com o outro, de ocupação, preocupação e de responsabilização. E isso demanda!" (DIAS, 2021)

Já Marini afirma que a falta de valorização se dá, por conta da continuidade diária de tarefas, ou seja, já está tão inserido em nossa sociedade que já consideramos normal, no entanto, ela expõe em seu argumento algo extremamente importante que falaremos logo a seguir: As mudanças de paradigmas.

“Acredito ser cultural, ainda pensando que a mulher não trabalha fora e por isso deve dar conta de todas essas atividades. Mas também penso que com as novas gerações, isso já está mudando. Hoje as famílias são diferentes, pois os responsáveis saem para trabalhar todos os dias e por isso as tarefas já estão sendo divididas".

"Está mudando o pensamento em que a mulher deve ficar em casa para cuidar das tarefas domésticas. Um exemplo seria as famílias em que a mulher sai para trabalhar e os pais cuidam dos filhos".

Na atualidade há homens -ainda que seja um grupo minoritário - que vem se apoderando do papel de cuidados com a casa e com as crianças. Que buscam igualdade e equilíbrio dentro de suas residências, tornando a sociedade mais justa, no entanto, não são todos.

Dos 90% do trabalho de cuidado no Brasil é feito informalmente pelas famílias – e desses 90%, quase 85% é feito por mulheres, de acordo com Oxfam: Tempo de Cuidar.

E claro que essas mudanças de pensamentos são perceptíveis, assim como também, os motivos pelo qual a mulher desempenha essas funções são variados. Em geral os homens sempre se dedicaram à manutenção da casa e as mulheres ficaram com a função do cuidado.

Assim, essa ideia ancestral de dedicação do lar, indiretamente, gera expectativa e uma divisão sexual do trabalho a ser realizado pelos membros da casa. Contudo, isso não é o ponto mais significativo, já que, é totalmente justificado culturalmente e a curva de aprendizado de homens e mulheres no que se refere ao setor do cuidado é totalmente diferente.

Ademais, esse cenário pandêmico tem trazido à tona muitos questionamentos relevantes para a nossa sociedade, dentre eles a diferença de disponibilidade de tempo entre os gêneros que de acordo com especialistas é umas das causas da desigualdade salarial entre eles no país.

Sobre esse tópico, Ana Carolina e Renata retrataram seus pontos de vista.

"Você já ouviu falar em Economia do Cuidado? Se sim, acredita que ela está no centro da disparidade de gênero no mercado de trabalho? Se sim, acredita que ela está no centro da disparidade de gênero no mercado de trabalho?"

“Eu não me considero feminista. Eu acredito em uma sociedade igualitária, onde homens e mulheres sejam valorizados pelo trabalho que executam e principalmente pela dedicação que se dispõem em todo o tipo de tarefa, seja ela dentro de casa ou fora, no trabalho e que isso independe do gênero. Há pesquisas comprovadas que o número de horas trabalhadas pelas mulheres sem remuneração é muito maior do que do homem, e isso precisa mudar, precisa se igualar e preservar o equilíbrio. E sim, acredito que ela está no centro da disparidade de gênero no mercado de trabalho, infelizmente".

Nesta mesma linha de pensamento, a professora Carol justifica essa segregação devido a suposição de que mulheres por ter outras funções relacionadas ao cuidado, como filhos, família, são automaticamente vistas como algo trabalhoso para as empresas e reitera sobre as mudanças de pensamentos :

“ Muitas mulheres hoje já estão em grandes cargos e conseguem conciliar perfeitamente as atividades familiares com as atividades de trabalho". 

Seguindo essa lógica, isso não significa que o homem é culpado por tudo, já que, vemos diariamente a mudança de paradigmas pouco a pouco tomando conta da nossa sociedade, no entanto, a não naturalização para o ensino de serviços domésticos entre gêneros é sim uma forma de perpetuar essa desigualdade. Logo, o homem possui mais tempo para se dedicar a carreira dentre outros aspectos, porque foi ensinado isso a ele, assim também como é ensinado às meninas desde pequenas que o dever dela como mulher é limpar a casa, cozinhar, executar todos esse serviços, e evidentemente, isso está errado.

Então talvez você esteja pensando nesse momento que realmente não há solução para isso, afinal foi sempre assim. Mas asseguro a vocês, como todos os problemas do mundo a maior chave de solução é a : Educação.

Por esse ângulo, conduzimos o último questionamento que fiz as profissionais entrevistadas:

"Qual seria a solução na sua opinião para que a sociedade alivie essa carga de trabalho impostas às mulheres?"

Para Renata, a resposta é a empatia, principalmente entre as próprias mulheres, valorização das suas responsabilidades além da importância de deixar com que os homens participem mais ativamente das atividades impostas às mulheres.

Assim como para Ana, a solução seria todos ajudarem e não haver uma divisão específica, como por exemplo, pensar que a mulher deve sempre limpar a casa, fazer a comida e cuidar dos filhos. Ela acredita que todos devem cuidar de onde moram e ajudar em tarefas que sejam possíveis.

Logo, para mim, a mulher precisa dar espaço ao aprendizado do homem e de que forma? Educando os meninos desde pequenos, mostrando que eles precisam cuidar, limpar, cozinhar, assim como as meninas dando igualdade educacional. Todo o conhecimento adquirido com o passar dos anos no setor de cuidado precisa ser passado para nossos filhos independente do gênero, pois apenas quem educa é capaz de mudar, reconhecer, aceitar e reconstruir. Se queremos acabar com a desigualdade salarial, dividir essa carga de trabalho e tornar o invisível notável temos que começar de baixo, pois só assim chegaremos ao topo.

Foto: Reprodução/Pexels
Foto: Reprodução/Pexels

Dessa forma, quando nos referimos a esse trabalho reprodutivo, ou seja, não remunerado vinculado ao setor de cuidado é sair do apego da monetização e abraçar a valorização, pois essa é a essência dessa economia, dar valor ao que não tem, dar importância a esse trabalho tão lindo, transformar o que não está no PIB reconhecendo como um serviço digno e essencial.

Pois essa não é apenas a Economia do Cuidado, mas também a do bem-estar, a resposta para o que está no centro da sociedade. Portanto, depois de tudo o que vimos, podemos concluir que o cuidado não é função da mulher, e sim é o trabalho de todo o ser humano.

A pandemia nos mostrou que cuidar uns dos outros é essencial para vida e hoje trago a vocês a importância de cuidar de quem cuida da gente, mostrando que essas mulheres são o motor da sociedade, são elas que educam os profissionais do futuro e formam a humanidade, através de algo que nos subsidiam, a verdadeira revolução das máquinas : A economia do cuidado.

Dessa forma, espero que vocês tenham aprendido bastante e assim como eu, que consegui transformar meu pensamento como jovem, cidadã e mulher, possa ter enriquecido algo no conhecimento de vocês. Por fim, agradeço essa oportunidade de ter escrito sobre algo incrível e importante para a sociedade. Peço que compartilhem para que mais pessoas saibam sobre essa temática e aos poucos possamos traçar linhas de conhecimento ligando pontes de humanidade.

Um grande abraço, fique ligadinho e acompanhe o Meon Jovem, esse projeto esplêndido que instiga talento e desperta oportunidade.


Escrito por
Ingrid Latanzi (Arquivo Pessoal )
Ingrid Vitória Latanzi Silva

Aluna do 3° ano do Ensino Técnico em Administração - Colégio Univap - Unidade Centro - São José dos Campos

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