Por Rodrigo Machado Em RMVale

Excesso de propaganda em canteiros 'adotados' gera polêmica em São José

Poluição Visual? Somente no Urbanova reportagem contabilizou 28 placas

Avenida Shishima Hifumi

Avenida Shishima Hifumi, na zona oeste de São José

Pedro Ivo Prates/Meon

Qual é a importância do paisagismo para o planejamento urbano e estético de uma cidade como São José dos Campos? Quais os limites e regras para encontrar o equilíbrio para uma área verde bem cuidada e um canteiro com estruturas de ferro e madeira com propagandas que chegam a medir mais de um metro de altura?

É só percorrer as ruas e avenidas de alguns bairros como o Jardim Aquarius, Urbanova, Jardim Esplanada, Vila Adyana e Vila Ema, regiões nobres da cidade, que é fácil constatar quantas áreas são cuidadas a ‘troco’ de publicidade.

A permissão, que atende diversas regras previstas na lei municipal 5.098, de 1.997, sancionada durante a gestão do ex-prefeito Emanuel Fernandes (PSDB) depois de aprovada pelos vereadores à época, instituiu o programa Nossa Praça para a conservação de espaços públicos em regime de colaboração de particulares.

A lei autoriza pessoas jurídicas e físicas aderir ao programa 'Nossa Praça' para a conservação e melhoria de ajardinamento e tratamento paisagístico de praças e outros logradouros públicos. O quinto artigo diz que é ‘proibida a colocação, nos locais beneficiados nos termos desta lei, de placas publicitárias, exceto aquela com a simples citação de nome, endereço e telefone dos colaboradores’. Cartazes colados em pontos de ônibus e postes também poluem o 'visual' de São José.

Arte Brasil Florido

Estrutura indicada no site da empresa

Reprodução

Apesar de a lei ser favorável para a manutenção desses canteiros, são as placas que acabam chamando a atenção e não as áreas cuidadas, promovendo a poluição visual, principalmente, em áreas de grande circulação, segundo especialistas.

Para a arquiteta, urbanista e professora da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado), Elisabete França, em geral as cidades brasileiras se preocupam pouco com a poluição visual, que é aceita como uma situação normal, sem perceber o quanto a paisagem urbana desaparece atrás da propaganda.

Segundo ela, é importante, acima de tudo, entender que o espaço público é do conjunto dos moradores da cidade e não pode ser privatizado pela sua apropriação de forma privada.

“Alguns municípios utilizam esse mecanismo que permite a propaganda desde que a empresa faça a gestão das áreas verdes. Não considero a melhor solução porque, em geral, as empresas só se interessam pelas áreas mais bem localizadas e a propaganda não é discreta”, disse. “Creio que devemos encontrar novos caminhos para a gestão dessas áreas focando na participação dos usuários, mas alguma experiência vem dando resultados”, completou.

Cenário
Segundo moradores, comerciantes e especialistas ouvidos pelo Meon, o excesso de placas tem chamado a atenção de quem passa pelas avenidas Shishima Hifumi, Eduardo Cury, São João, Nove de Julho. “Acho que polui o visual demais, existem várias formas de manter essas áreas limpas sem deixar feia”, disse a aposentada Maria José Carvalho, de 62 anos.

A reportagem percorreu avenidas e ruas do Urbanova e contabilizou 28 áreas adotadas por empresas privadas e oito com estruturas fixadas prontas para receber a publicidade. Tudo certo se não fosse um problema: todas são coordenadas e 'mantidas' por meio da empresa Brasil Florido, registrada como A.C. Gouveia Paisagismo & Construção Civil Ltda, para atuação no comércio varejista, atividades paisagísticas, construção de edifícios e aluguel de máquinas do setor.

Por telefone, em dezembro, uma atendente da empresa que se identificou como Renata respondeu alguns questionamentos sobre o funcionamento do serviço:

“Você paga a manutenção mensal pra gente e a manutenção é o quê? Os valores dependem de localização da área, tamanho da área, dificuldade de manutenção, então você vai ver que tem áreas que às vezes são mais baratas, e tem áreas que são pequenas e mais caras, porque a dificuldade de manutenção é maior”, disse.

“É uma publicidade muito legal porque é bem mais barata que outdoor. No outdoor você vai pagar e terá a publicidade por quinze dias, no máximo um mês. A nossa fica 24 horas por dia, o nosso contrato é de 24 meses. A gente tem uma cláusula no nosso contrato que se o cliente quer cancelar, tem que nos avisar 30 dias antes, então você avisa por escrito ou por e-mail, nesses 30 dias você continua pagando e a placa continua no local.”.

“A gente tem áreas de R$ 300, R$ 400 e R$ 500 por mês. É mensal. Até área de R$ 50, R$ 60 mil por mês, entendeu? Depende da área, da localização, de tudo isso, entendeu?”

“Se caso você ver que tem outra área que você gostou e a gente não tem, a gente entra em contato com a prefeitura e pergunta se essa área está disponível para adoção e se a prefeitura disponibilizar a gente passa o custo para o cliente”.

“Você faz com a gente e tudo que tiver que resolver na prefeitura, somos nós que resolvemos, porque realmente a prefeitura pode um dia chegar e dizer: 'olha essa área precisa de mais planta ou pode falar que a placa que está no local está atrapalhando algum carro ou alguma coisa. A gente troca, qualquer coisa que a prefeitura possa vir falar, ela vai falar com a gente e a gente conversa com o cliente”.

fachada

Fachada da AC Locação de Equipamentos na Praça Anchieta, na zona norte

Reprodução/Google Street View

Outro lado
Procurada oficialmente pela reportagem desde a última quinta-feira (12), a Brasil Florido retornou apenas nesta segunda-feira (16) por telefone e posteriormente respondendo ao e-mail da reportagem  no final da noite.

O diretor da A.C. Gouveia serviços, Ronaldo Pereira Chaves Filho, disse que a A.C.G é uma empresa de prestação de serviços que se especializou em manutenção e conservação de áreas verdes e auxilia os adotantes tanto na parte burocrática quanto na manutenção da área adotada.  

Nós não vendemos propaganda, e sim serviços de manutenção. A A.C.G tem 15 termos de cooperação atualmente onde divulga as atividades que desempenha. O adotante tem o beneficio de fixar uma placa em troca da adoção (manutenção e conservação) da área verde pública, pois se trata de uma parceria público-privada, conforme lei 5487/99. Constituída em 2008 atuamos nas áreas de paisagismo, construção civil e locação de maquinas e equipamentos. A A.C.G não explora áreas, e sim fornece material, mão de obra e ferramentas para efetuar as manutenções”, disse. 

Segundo ainda a empresa, conforme as diretrizes do programa Nossa Praça, o modelo é um só. “A estrutura de madeira foi uma sugestão que demos à SSM com o intuito de utilizar material de fontes renováveis. O adotante não paga por placa e sim por manutenção da área verde adotada. Temos uma inspeção semanal, e as manutenções tem um ciclo contínuo de 30 dias com intervenções sempre que necessário. O termo de cooperação é firmado entre a prefeitura de São José e o adotante”, informou.

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Questionado sobre os valores informados por telefone, Ronaldo afirmou que os custos são calculados conforme a área de cada logradouro e por metro quadrado. “Conforme a página do site oficial da prefeitura, a quantidade de placas é por metro quadrado, sendo um a cada 300 metros quadrados. Tomamos o devido cuidado de orientar os nossos clientes a não poluir visualmente o local e quem determina a quantidade de placas é a SSM com uma vistoria prévia do local”, finalizou.

O Meon entrou em contato com a Prefeitura de São José dos Campos solicitando mais informações sobre áreas que foram adotadas por empresas e para comentar a reportagem, mas aguarda retorno. 

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