Por Leticia R. Ferreira Netto Em Blog e Colunas Atualizada em 03 OUT 2020 - 14H49

2020 foi um ano perdido para a educação? Ou se as aulas voltarem agora, o que muda?

Spoiler: não, 2020 não é um ano perdido. E as aulas voltarem agora não vai mudar muita coisa

O que 2020 fez com a educação? A pandemia de COVID-19 fez as crianças, adolescentes e demais estudantes voltarem para casa e ficar sem aulas presenciais. As escolas e famílias com mais recursos mantiveram aulas online ao vivo. As famílias e escolas com menos recursos, da rede pública principalmente, encaminham material para casa com apoio de atividades e livros, além das orientações de professores e os eternos e badalados grupos de whatsapp.

Sofremos? Muito. Os pais descobriram que não sabem ensinar (para quem não é da licenciatura). Descobrimos que aprender não é falar uma vez, a criança dizer que entendeu, mas não conseguir praticar. Descobrimos que gritar com quem aprende e tem dúvidas não faz o aluno aprender mais rápido, muito pelo contrário. Descobrimos que é frustrante explicar algo que consideramos simples e o outro não entender. Descobrimos que estar online e dormir é o equivalente digital de não prestar atenção na aula. Descobrimos que, talvez, as reclamações constantes do professor sobre seu anjinho tenham fundamento – ele não para, ele não se interessa, ele não quer.

2020, então, foi uma escola. Uma escola de pais, que perceberam como estão seus filhos em relação aos estudos. Uma escola para os professores, forçados a repensar práticas e recursos. Uma escola para o aluno perceber a falta que um professor faz e também que, com as orientações adequadas, ele é capaz de aprender. 2020 foi uma escola para que possamos pensar o que é a escola.

A escola é um ambiente de aprendizagem, não um prédio. Para ter aprendizagem formal, que é o que se faz na escola, precisamos de um ambiente propício – com recursos materiais, sim, mas, principalmente, com recursos humanos e conhecimento. Entender as etapas do desenvolvimento, entender como alguém aprende, entender como formular atividades para o aluno evoluir na aprendizagem, dominar o conteúdo são tarefas do professor. Cuidados com o corpo, com o comportamento, com valores estão no meio do processo, mas é dever da família.

Por que nada vai mudar se voltarem as aulas? O stress, o medo, a agitação e a euforia não vão permitir que os alunos apreendam o conteúdo como em tempos de “paz”, devido ao excesso de estímulos e hormônios; mas vai tirar as crianças de casa. Não existe possibilidade de voltar ao normal, pois ele foi quebrado. A volta às aulas vai exigir mais dos professores para controlar as salas (se pensarmos só nesse aspecto), pois se os alunos já conversavam se vendo todo dia, imagine quase um ano sem se ver! Eles estão sedentos de contato humano e amplidão como nós. Então, uma escola humana não vai focar no conteúdo agora. Não há espaço mental para isso. O coração vem primeiro.

Porém, tirar o problema das vistas faz o problema desaparecer? O problema do seu filho agora será dos professores e não mais seu? A valorização do estudo e da escola na sua casa influenciam o aluno que sua criança será. Se ela não aprender o conteúdo, não se preocupe, isso é facilmente recuperável. Mas, quando o seu filho voltar para a escola,

você vai voltar a ser o que era ou você aprendeu com a pandemia a falta que a escola e os professores fazem na educação? Quando voltarem as aulas, você vai colaborar com a escola, sabendo que aluno seu filho é?

Escrito por:
WhatsApp Image 2020-09-26 at 18.40.41 (Divulgação)
Leticia R. Ferreira Netto

Psicopedagoga formada em Ciências Sociais e Pedagogia, com mestrado em Ciências Sociais pela UNESP

Faz pós-graduação em Docência, trabalha como professora de Sociologia desde 2015, com cursinhos populares, cursinhos EAD e Ensino Médio

Atualmente é professora da rede privada e ministra Sociologia para 1ª e 2ª Séries do Ensino Médio, além de fazer tutoria no curso de Pedagogia no Ensino Superior.

lferreiranetto@gmail.com

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