Os cristais começaram a se popularizar na década de 70, porém, em 2021 se tornou um fenômeno nas redes sociais entre jovens e adolescentes. Os influenciadores do nicho prometem que essas pedras podem trazer diversos benefícios para uma vida melhor, mas esse bem-estar vem com que custo?
A procura por cristais de “cura” só aumenta. Nos EUA a demanda dobrou nos últimos dois anos. No Brasil, a pandemia causou uma alta de 20% na procura, segundo a Bloomberg. Especialistas dizem que a tendência desse mercado ainda é de crescimento.
Sob o solo de Madagascar existe um tesouro: metais e pedras preciosas. A exportação desse ramo é a que mais cresce desde 2017, onde dezenas de milhares de homens invadem áreas ambientais protegidas, ameaçando a floresta tropical do país e espécies que vivem ali.
Num país cuja infraestrutura, o capital e a regulamentação do trabalho são escassos. A extração é “artesanal” como preferem dizer algumas marcas, ou seja, movido ao esforço e suor humano, na maior parte das vezes, infantil. Além disso, mais de 80% da matéria é extraída por pequenas famílias e grupos em situação análoga a escravidão, sob o risco de deslizamentos de terras, além de que as rochas quebradas criam poeira fina e partículas que aumentam o risco de câncer no pulmão.
No Brasil, se tem o mesmo rastro de pobreza e exploração, parte da extração dos cristais é feita em garimpos ilegais e está relacionada a invasões de terras indígenas, condições de trabalho análogas à escravidão e o desmatamento de áreas de proteção ambiental.
No ano de 2011 aconteceu a Operação Senzala, em Diamantina. Foram libertadas cerca de 30 pessoas que estavam em situação análogas à escravidão numa mina de exploração de cristal de quartzo. Sem acesso à água potável nem instalações sanitárias, sem treinamento para operar máquinas e trabalhando em jornadas exaustivas sem equipamentos de proteção individual.
A espiritualidade associada a estes minerais não é um problema e é super natural que procuremos refúgios de bem-estar, mas muitas vezes não sabemos o que está por trás do que consumimos. A falta de questionamento das pessoas que dizem trabalhar com expansão de consciência em relação à questão da origem do produto precisa ser refletida.
A geógrafa e ativista ambiental, Lívia Humaire declara “É sustentável usar algo que emprega crianças, que provoca mortes por soterramentos de famílias inteiras, que deixa rastros de destruição e florestas desmatadas, pagando centavos para quem arrisca suas vidas sem opção, com a promessa de que isso gera cura ou benefícios energéticos?”.
Entretanto, os pequenos e grandes negócios têm um pouco mais de obrigação em checar a fonte da mercadoria e alinhar assim a seus princípios. Afinal, ao buscar uma empresa comprometida com a sustentabilidade, a confiança dos clientes aumenta e a marca reside justamente nessa curadoria e já elaborada. Por isso, quando você vai comprar uma pedra mística e energizada é muito importante exigir do comerciante que ele trabalhe com mineradoras de acordo com o comércio justo.
Como exemplo há a cidade de Ametista do Sul, no interior do Rio Grande do Sul, que faz extração de alguns minerais. Nela, há turismo nas áreas de mineração e é possível conhecer o contexto, que neste caso, não é o mesmo de Madagascar e de outros locais explorados.
A narrativa de energização e espiritualidade que circunda os cristais mascara toda uma cadeia de dor e exploração. Se os cristais trazem benefícios terapêuticos, porque não deixá-los intactos na natureza para benefício de todos? Humanos, animais e plantas? Afinal, a quem serve o bem-estar das pedras?
Com supervisão de Yeda Vasconcelos, jornalista do Meon Jovem.
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